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Pode até parecer paradoxal associar uma jornada de trabalho mais curta a níveis mais elevados de produtividade. Mas é precisamente a esta conclusão que a ciência nos leva: “trabalhar menos” significa trabalhar de forma mais eficiente, criativa e qualitativa. Um verdadeiro convite à reflexão sobre o modelo de trabalho brasileiro atual.

Existe um profundo estigma, quase filosófico, no que diz respeito ao ócio. Em nosso modelo laboral, inspirado pela cultura norte-americana, tendemos a crer cegamente que produzir mais – e por mais tempo – é produzir melhor. Vangloriamos quem passa mais de 10 horas por dia no escritório e aplaudimos quem vira madrugadas em torno do trabalho.

Afinal, quem adota esse tipo de postura é quem realmente contribui para a economia. Será mesmo? Em números, não há comprovação alguma disso. Segundo reportagem da BBC, na Itália, o trabalhador comum possui uma média de 35,5 horas semanais de trabalho. Mas o país produz até 40% a mais por hora do que na Turquia, onde as pessoas trabalham 47,9 horas – a título de ilustração.

Mas quais seriam, então, os potenciais benefícios de uma jornada de trabalho encurtada? O que a Neurociência nos diz a esse respeito?

Siga a leitura para explorar os principais insights.

Jornada de trabalho semanal e mensal mais curta: quais são os benefícios em potencial?

Ainda que a Era Industrial já aparente estar bem distante sob uma perspectiva histórica, vivemos hoje em outro contexto que favorece o excesso de trabalho e a exaustão que ultrapassa o limite físico, com profundo impacto no aspecto mental. Nos referimos, claro, à inserção dos dispositivos tecnológicos em nossas rotinas.

No livro “21 lições para o século 21”, o historiador Yuval Harari alerta para a possibilidade das telas produzirem seres humanos cada vez mais desconectados de si mesmos e, portanto, potencialmente nocivos ao mundo.

“Hoje, se meu chefe quer que eu responda meus e-mails o mais rápido possível, eu verifico meus e-mails enquanto como e me torno cada vez mais incapaz de saborear a comida, de prestar atenção às minhas próprias sensações (…) Estamos criando homens domesticados que produzem enormes quantidades de dados e funcionam como chips muito eficientes, mas que estão longe de atingir seu potencial máximo”, adverte.

A tecnologia favorece a tendência ao trabalho sem hora, local ou aviso prévio. Assim, é simples esquecer que o ócio também contribui no processo criativo. A ciência parece respaldar cada vez mais o argumento de Harari.

Um estudo conduzido pela Universidade de Warwick com 700 trabalhadores, por exemplo, concluiu que funcionários felizes produzem até 12% mais. Obviamente que o conceito de felicidade é abstrato, mas uma vez que já sabemos de maneira sólida que sedentarismo e má-alimentação prejudicam a qualidade de vida, certamente o trabalho também é afetado.

Também é importante avaliar a perspectiva de uma jornada menor sob o aspecto qualitativo e a REAL produtividade. Um levantamento realizado com quase 2 mil trabalhadores no Reino Unido descobriu que estes eram efetivamente produtivos apenas por 2 horas e 53 minutos, durante uma jornada de 8 horas.

Agora, imagine o custo EMOCIONAL e FINANCEIRO disso, tanto sob a perspectiva do colaborador, quanto sob a perspectiva da organização?

Perigos da jornada excessiva à saúde do trabalhador (e ao empregador)

Outro forte argumento em favor da redução da jornada de trabalho são as evidentes associações entre o excesso de trabalho e os danos à saúde física e mental dos trabalhadores. Dados reunidos pela Sociedade Europeia de Cardiologia sinalizam que o excesso de trabalho está fortemente associado ao risco de doenças do coração.

Há análises que chegam a apontar que longas jornadas de trabalho podem elevar o risco de uma pessoa ter uma doença coronariana em 40%. Para se ter ideia da dimensão do que isso significa, fumar eleva o risco em até 50%.

Outro recente estudo da University College London associou longas jornadas de trabalho (+55 horas/semana) a um maior risco de depressão em mulheres. Em artigo já publicado aqui no blog, você pode compreender melhor também outros fatores associados à chamada Síndrome de Burnout.

O fato inquestionável é que há, sim, um prejuízo no que diz respeito à habilidade cognitiva e os níveis de qualidade de vida do trabalhador diante de jornadas muito extensas e do incentivo ao comportamento workaholic. Então, quem sabe agora não é o momento de repensar nosso modelo de trabalho?

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