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Se na gestão apenas se administra o que se mede, o que fazemos com o que não é ou não pode ser medido?

É conhecida a afirmação de que, em gestão, só se administra o que se mede. E de fato é assim que se passa e as ciências aplicadas à administração de empresas têm se esforçado nos últimos anos para tornar mensurável em especial os aspectos que dizem respeito ao “lado humano da organizações”, expressão que procura dar conta dos avanços do humanismo administrativo desde Elton Mayo (e os experimentos de Hawthorne), e estabelecida por Douglas McGregor com sua famosa teoria X e Y.

Podemos traçar um paralelo com a Medicina que, ao longo do século XX, ao se tornar uma medicina “científica” busca se apoiar em tecnologia e farmacologia de ponta para ampliar o que pode ser observado e medido. As “ciências” comportamentais não ficam atrás, desde os experimentos de Pavlov passando pela análise experimental do comportamento de Skinner e os avanços da psicometria.

O que têm de comum estes esforços de tornar estas disciplinas mais “científicas” é a “persistência” e a teimosia do que não se deixa medir mas que não deixa de fazer seus efeitos. Na medicina, à parte os maravilhosos avanços alcançados nos últimos 100 anos, assistimos, em nome da “ciência” uma derrocada da Clínica em favor de diagnósticos por imagem e tratamentos exageradamente medicamentosos que transformam os médicos cada vez mais em meros técnicos, não só por atenderem em 15 minutos seus pacientes mas porque têm sua formação clinica substituída pelo manejo e interpretação de exames que se tornam objeto do trabalho por si sós, independente do paciente. Ouvir o paciente passou a ser um gesto entendido como apenas de educação e atenção e não um ato clínico. É sabido também que, para os “equívocos” nos procedimentos “científicos” funciona um poderoso corporativismo a proteger os médicos das surpresas dos cantos escuros e dos silêncios da medicina científica. Mas porque enveredamos por falar sobre isso? Afinal de contas, todos temos a experiência de sermos atendidos em 15 minutos através de nossos caros convênios médicos e todos temos na família casos graves de erros médicos, não é?

Voltemos para as organizações e para a administração de empresas e para a indagação: Se na gestão só apenas administra o que se mede, o que fazemos com o que não é ou não pode ser medido? Vemos como o esforço da medicina científica causou e ainda causa um descaso com a atitude clínica dos médicos, sugerimos que com a chamada administração científica acabe ocorrendo o mesmo, ou seja, uma falta do que entendemos por atitude clínica, que deve incidir nos “escuros” e nos silêncios da administração, ou seja, no que não se observa nem pode ser medido.

Na área de gestão de pessoas, em especial, é interessante observar que a combinação dos avançados métodos de mensuração com uma preocupação especial voltada “ao que não se mede” tem obtido um significativo sucesso na garantia da satisfação, na produtividade e no comprometimento do trabalhador na direção daquilo que designamos como “trabalho saudável”. Ao que parece, aos poucos, os gestores têm descoberto que, o que não é generalizável, o que não pode ser previsto, ou observável, no entanto faz seus efeitos. No mundo do trabalho, como se sabe, os profissionais estão 10% envolvidos com habilidades ténicas e 90% envolvidos com habilidades de convivência…

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