Compartilhar:

A insatisfação não está necessariamente nas tarefas que a pessoa exerce (o que faz), mas em fatores subjetivos que a fazem perceber esse fazer como positivo ou não

“A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas gostar daquilo que se faz”. Essa frase é atribuída a Leonardo Da Vinci – inventor, cientista, pintor, escultor, poeta, estudioso de anatomia do século 16, considerado um dos grandes gênios da humanidade.  Essa frase é interessante não apenas por sua sensatez, mas também pelo autor em questão – uma pessoa que encontrava, vê-se por sua diversidade, imensa satisfação na exploração de possibilidades – um executor por excelência, gostava de fazer.

Deixemos Da Vinci nos anos 1500 e voltemos para século 21. Não raro definimos o “que gostamos” – isso para a minoria da população que conta com recursos materiais para poder escolher – muito cedo, antes dos 20 anos, quando decidimos por um curso na universidade. Um fenômeno muito comum é a constante troca de curso entre os jovens, que “descobrem” que não gostam da futura profissão (mesmo sem ter trabalhado nela). Não raro isso se estende para a vida profissional. Vê-se pela quantidade de jovens talentosos ou mesmo executivos insatisfeitos, com a permanente sensação de que não se encaixam, que não estão “fazendo o que gostam” – apesar de, na maioria esmagadora dos casos, não saberem exatamente definir o ideal “o que gosto”. Chegamos ao ponto.

Em geral, a insatisfação não está necessariamente nas tarefas que a pessoa exerce (o que faz), mas em fatores subjetivos que a fazem perceber esse fazer como positivo ou não: os resultados de seu trabalho, a valorização pessoal e social, as relações que essa função propicia. Uma pesquisa realizada em 2015 pela empresa britânica Michael Page com mil executivos no Brasil mostra que os principais motivos de insatisfação com o trabalho e pedidos de demissão são sensação de estagnação e falta de estímulo-reconhecimento.  Ou seja, fatores mais associados ao ambiente, às relações e, principalmente, à percepção pessoal dos resultados, do que à função em si. Não estavam gostando do que faziam.

Gostar do que faz é muitas vezes resultado de uma perspectiva madura e ampla da própria trajetória profissional. Perspectiva que leva em conta aprendizados, crescimento pessoal, que temos de nos reinventar em cima do que o contexto oferece – e não buscar o contexto no qual acreditamos ser o mais propício para realizarmos o quer que seja. Muitas vezes o tédio e a insatisfação podem ser sinais não de que você não “faz o que gosta”, mas que não está se reinventando, produzindo (não só resultados, mas autoconhecimento), gostando do que você faz de si mesmo, da sua empresa, da sua rotina, da sua vida.

Compartilhar: