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Mudanças pequenas, porém realistas, no cotidiano, podem “abrir a porta” para desafios maiores – é o que mostra a ciência

Matt Cutts, engenheiro da computação e funcionário do Google, sentiu-se angustiado por perceber os meses do ano “voando” sem aparentemente ter nada de novo acontecendo em sua vida – mantinha a rotina de sempre, com muito tempo dedicado ao trabalho, e sentia que não estava bem. Mas, por onde começar a mudar? Buscar uma grande ruptura (uma nova cidade, novo emprego, viagens longas), como é o sonho de muitos, mas que pouquíssimos executam? Ou começar com mudanças pequenas, porém realistas? Cutts optou pela segunda opção e conta sua experiência em uma instigante conferência no TED que já tem mais de 8 milhões de visualizações.

Ele simplesmente começou inserindo alterações em sua rotina que ele afirma terem “aberto a porta” para desafios maiores.  São hábitos muito singelos que ele tentou adotar por ao menos 30 dias: tirar uma foto por dia e postar no Instagram, ir de bicicleta ao trabalho, não comer doces. Cutts afirma que os pequenos hábitos estimularam projetos mais ambiciosos, como escalar o Monte Kilimanjaro, na África.

A experiência feita sem pretensões científicas pelo engenheiro encontra, na verdade, respaldo em várias pesquisas da neurociência e psicologia cognitiva. Um estudo da Universidade de Administração de Cingapura, publicado no Psychological Science, por exemplo, avaliou os efeitos positivos de simplesmente sair para fazer uma caminhada de poucos minutos no meio de um dia de trabalho. Caso não seja possível, basta tirar alguns segundos para olhar pela janela e buscar o horizonte.

De acordo com a psicóloga Angela Leung, uma das autoras, esses hábitos muito simples funcionam como novos estímulos para cérebro. Em outras palavras, ajudam a “ventilar a mente” e abrir caminho para o pensamento criativo e novas ideias.

Em outro estudo do grupo, pesquisadores da universidade levaram a expressão “sair da caixa” ao pé da letra e compararam a flexibilidade cognitiva de voluntários em uma mesma tarefa em diferentes situações: alguns deles a fizeram alojados em uma caixa de papelão, outros sentados fora dela e os demais circulando livremente pelo laboratório ou andando num espaço retangular. De forma geral, todos os que estavam fora da caixa se saíram melhor, segundo padrões de avaliação do pensamento criativo.

“Ande despreocupadamente pela sala ou, melhor ainda, caminhe sem pressa em um parque. Tente inserir na rotina experiências simples, mas que tragam novidades para seus sentidos, como ouvir uma música diferente, tentar outro caminho para o trabalho”, disse a psicóloga à revista Mente e Cérebro, que divulgou o estudo no Brasil. Os trabalhos de Leung e sua equipe sugerem que novas percepções podem influenciar os pensamentos e, mesmo assimiladas em nível não consciente, oferecer uma ou outra peça para a complexa engrenagem que gera nossas ideias e sentimentos.

E então, gostou dos motivos para tentar pequenas mudanças em sua rotina?

 

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