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A noção de “no lugar certo e na hora certa” é resultado de trabalho e dedicação contínuos, da construção de conexões pessoais e profissionais ao longo tempo, possibilitando, assim, o surgimento das grandes oportunidades

A percepção de sorte está muito permeada em nossa cultura. Tendemos a acreditar na ideia de que algumas pessoas (ou até nós mesmos) são favorecidas ou prejudicadas em suas conquistas por uma espécie de mecânica acidental. Essa percepção, se analisada mais a fundo, porém, não passa de uma perspectiva limitada, que nos permite, muitas vezes, sermos indulgentes com nossos próprios erros e com nossa falta de persistência e de planejamento.

A noção de “no lugar certo e na hora certa” é resultado de trabalho e dedicação contínuos, da construção de conexões pessoais e profissionais ao longo tempo, possibilitando, assim, o surgimento das grandes oportunidades, os “saltos” na vida – o convite para ocupar aquele cargo sempre almejado em uma grande empresa, por exemplo. “Sortudos são, essencialmente, pessoas hábeis em estabelecer ligações entre diversos grupos de indivíduos, aumentando assim a possibilidade de encontros úteis. O famoso ‘como o mundo é pequeno!’ faz sentido para quem estabelece muitas conexões”, explica o psicólogo Richard Wiseman, professor da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, maior referência mundial no estudo dos mecanismos psicológicos da sorte.

Uma leitura muito interessante sobre o tema, aliás, é o livro O fator sorte (Record, 2003), de Wiseman, já traduzido para mais de 20 idiomas, no qual o psicólogo compartilha os resultados de suas pesquisas. Segundo Wiseman, a noção de sorte é muitas vezes uma perspectiva, que pode tanto atrapalhar como ser útil em nossas vidas. Por exemplo, ao analisar a personalidade de pessoas que se identificam como “azaradas” e têm tendência a ver o mundo de viés pessimista (e o curioso é que maioria delas acredita ser apenas realista), Wiseman identificou uma predisposição maior à desistência diante de obstáculos em comparação a pessoas que se viam como “abençoadas” e “sortudas”. O interessante é que, analisando os fatos das vidas dessas pessoas, elas pouco se destacam da média da população quanto à quantidade de eventos que podem ser considerados de sorte e de azar em suas vidas. A diferença é que os que enxergavam a vida de forma positiva e valorizavam mais suas conexões pessoais e conquistas eram mais satisfeitos consigo mesmos e também mais propensos a criar oportunidades e situações vantajosas, como conhecer pessoas.

Em suma, Wiseman afirma que trabalhar a “sorte” na própria vida está ao alcance de qualquer um. “Não capitular diante das dificuldades e tentar, até onde possível, enfatizar aspectos positivos, inclusive dos eventos negativos é caraterística dos considerados sortudos”, diz. Ou seja, tudo é uma questão de ponto de vista: considerar eventos negativos como experiência e os positivos como resultado de esforço e do aprendizado obtido com os negativos. Enfim, a ciência mostra que uma postura cética em relação à sorte é, em última instância, saudável – passamos a nos responsabilizar mais sobre nós mesmos e a abrir mão da postura de vítima dos acontecimentos. Estar no lugar certo, na hora certa e conhecer as pessoas certas está mais sob nossa responsabilidade do que muitas vezes preferimos acreditar.

Vale lembrar que a sabedoria popular incorpora o conceito de encontrar a sorte quando diz:  Deus ajuda quem cedo madruga.

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