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Saber quebrar regras sem sair do jogo tem se mostrado a habilidade de ouro dos novos tempos. Pesquisadores trabalham o conceito de “pensamento elástico”: a capacidade de readaptar ideias e planos às demandas do mundo, que se renovam numa velocidade nunca antes vista.

Foco, disciplina, persistência. Certamente são palavras bem compreendidas por pessoas que atingem suas metas. E não raro também são de fonte frustração para muitas outras.   Isso ocorre porque o senso comum tende a mistificar esses conceitos: construímos uma aura em torno da disciplina, o que se torna uma fonte inesgotável de culpa quando não conseguimos seguir nossos planos à risca.

Pesquisas recentes no campo da motivação estão mostrando que pessoas que se impõem disciplina rígida são mais propensas a sofrerem frustrações, se acreditarem incapazes e desistirem de suas metas do que aquelas que se permitem cometer alguns deslizes e se colocam mais abertas para reprogramar seus objetivos de acordo com situações, novos aprendizados e necessidades pessoais que surgem na vida.

Um dos nomes que se destaca nesse campo de estudo é pesquisadora Marissa Sharif, da Wharton School, centro de estudos em administração e marketing da Universidade da Pensilvânia. Há anos Sharif se dedica a descobrir fatores envolvidos na motivação – e seus dados são tão interessantes que têm inspirado a elaboração de aplicativos e cursos de treinamento que ajudam as pessoas se programar para a conquista de metas, com seguir dietas e parar de fumar. Segundo Sharif, um dos aspectos-chave da disciplina produtiva é justamente a flexibilidade. Isto é, prever escapes e não se deixar abater por causa disso. Isso pode funcionar desde empreender uma dieta até cursar uma formação acadêmica.

Em um de seus trabalhos, a pesquisadora convidou vários voluntários interessados em se exercitarem mais a usarem um aplicativo que contabilizava seus passos, sendo que deviam cumprir metas semanais de caminhada. Sharif programou os aplicativos de diferentes formas: a algumas pessoas era imposta uma disciplina rígida de passos por dia, outras tinham muitos dias de folga e liberdade para planejarem. Já outras contavam com um cronograma fixo, mas que permitia “cabularem” um ou dois dias na semana e reporem os passos em outro. Esse último modo, que combinava disciplina com direito a alguns escapes, foi o que mais trouxe resultados aos voluntários.

Sharif cunhou a expressão “reservas de emergência” para se referir a lapsos de disciplina que não necessariamente causam culpa ou frustração e que permitem momentos de folga para recuperar o fôlego, para atender demandas inesperadas ou mesmo para repensar e readaptar objetivos à realidade. “Incorporar flexibilidade a metas pode ser muito útil, principalmente em planos de longo prazo”, afirma.

A flexibilidade, principalmente dentro das companhias, tem sido amplamente defendida por outro pesquisador da Wharton School, Leonard Mlodinow, autor do livro Elastic (ainda sem tradução em português), que trabalha o conceito de “pensamento elástico”. Segundo o autor, para atingir metas realmente satisfatórias e inovadoras, aprender a responder de forma criativa a problemas e se dispor a refazer planos diante das dificuldades que surgem é tão ou mais importante quanto manter-se focado e firme.

Para Mlodinow, a realidade mudou muito nos últimos 10, 20 anos. Antes, as pessoas seguiam carreiras lineares e bem estabelecidas – trabalhavam em fábricas, cresciam numa mesma empresa, eram bem menos confrontadas com informações diferentes, questões de hierarquia e necessidades de mudança de planos. Nesses contextos, o conceito tradicional de disciplina funcionava. Hoje, porém, novidade e instabilidade se tornaram regra. Nesse sentido, se destaca quem consegue incorporar a flexibilidade em todos os campos da vida, ou que desenvolve o que o pesquisador chama de “pensamento elástico”: a capacidade de adaptar ideias e planos às demandas do mundo, que se renovam numa velocidade nunca antes vista. Nesse sentido, é preciso estar aberto a redirecionar foco e disciplina, tendo em mente que suas metas podem (e muito provavelmente) vão mudar ou se aprimorar ao longo do tempo.

Paradoxalmente, saber quebrar regras sem sair do jogo tem se mostrado a habilidade de ouro dos novos tempos. E você, está sabendo conjugar flexibilidade à disciplina?

 

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