Estamos na entrada da caverna de Platão. Temos que decidir se voltamos para dentro e retomamos a vida anterior e suas ilusões. Ou podemos ainda caminhar para fora e descobrir a luz do sol, a natureza, novas formas de fazermos as coisas.
A sociedade atual vive um dilema evolucionário, uma ruptura de paradigmas. A pandemia do Covid-19 (o Coronavírus) chacoalhou a vida de 7,6 bilhões de humanos, que tiveram que mudar o rumo das suas trajetórias, suas rotinas, suas realidades, suas ideias. Milhares de pessoas se foram, em meio às decisões políticas e sanitárias.
O mundo executivo (re)descobriu o home office e novas dinâmicas corporativas. As escolas tiveram que, às pressas, implantar o ensino à distância, com aulas online, conteúdos programáticos e atividades complementares. A classe operária, os trabalhadores informais, os moradores de comunidades tiveram que lutar por sua sobrevivência, em busca de apoio familiar e governamental. Moradores de rua, o povo invisível, de repente ficou visível, provocando reflexões sobre o nosso sistema de vida “moderno”. As mazelas humanas vieram à tona e percebemos que milhares de humanos não contam com saneamento básico, esgotos, água para beber…
Tivemos que acordar e nos reinventar.
A expressão do momento é o “novo normal”. Mas o que seria isso?
Podemos imaginar essa nova realidade partindo de algumas pistas. Certamente, teremos que mudar hábitos, usos e costumes. A higiene das mãos, o uso das máscaras e a distância de 2 metros está no protocolo. Mas, podemos ir mais fundo nessa questão?
O momento requer reflexão e um entendimento profundo desse acontecimento epidemiológico e social. De fato, há que se entender que esse novo vírus é uma ferramenta de evolução da humanidade, que nos impulsiona para outro patamar de existência.
Quando nossos ancestrais pré-históricos se separaram das florestas tropicais e se viraram nas savanas, com muito menos abrigo que os protegesse dos predadores e sem a farta oferta de alimentos que a floresta proporciona, usaram o que a vida tem de mais brilhante, a criatividade, ou seja, a capacidade de se adaptar e evoluir. O que a vida faz desde o começo para dar sequência à evolução
O vírus, como qualquer outra forma de vida do planeta Terra, já estava aqui antes de nós, vivendo sua vida, evoluindo na sua trajetória. Essa evolução envolve também o aperfeiçoamento de técnicas de sobrevivência e readequação da estrutura corporal e DNA/RNA (como todos os outros seres vivos). As constantes mutações dessa pequena partícula comprovam isso. Enfim, a vida quer viver.
No presente desafio, um novo elemento ressurge: o coletivo. A pandemia evidenciou a forma como a ação do grupo afeta o individual e o contrário. De fato, estamos sendo convidados a expandir nossas fronteiras para além do individual. A coletividade, portanto, se coloca como um passo necessário e imprescindível até, se quisermos sobreviver como raça.
O ser humano comum, apressado no seu dia a dia, não percebe que todos os seres vivos têm existência e vivem ciclos parecidos com os do humano. Não somos o topo da cadeia alimentar (como acreditamos), mas somos sim os mais predadores, por sinal. O isolamento social comprovou os danos que causamos ao meio ambiente e seu poder de renascimento: na ausência do homem, a natureza frutificou e floresceu, os animais se multiplicaram, os rios e o ar se purificaram.
Diante dos nossos olhos se evidencia esse importante dilema civilizatório: entrar na caverna e tentar manter tudo como estava ou sair e permitir o processo evolucionário, revendo as bases da nossa sociedade. A reflexão é urgente e necessária: Como seremos mais justos? Como poderemos viver numa realidade que contemple o mínimo para todos? Como poder ser melhor, sempre?
Quanto antes buscarmos essas respostas, antes nos encontraremos com a tão sonhada Felicidade.
Mesmo com a pandemia a nos amedrontar e modificar, ainda nos preocupamos em resgatar o que éramos. A busca do que somos nos libertará. Excelente reflexão! Lindo texto!!