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As melhores ideias geralmente nascem de pessoas que romperam com a realidade, quebrando paradigmas. Algo as incomoda em demasia e essa sensação de frustração, tristeza, raiva ou escassez gera uma energia criativa, que faz surgir uma nova saída para algum problema que até então não tinha solução. Desse incômodo nascem gênios, grandes inventores ou mobilizadores sociais.

Muitos elementos se conectam com essa força criadora, como a importância dos vínculos nas relações, como nos mostra o pesquisador Osório Santos, no livro Acaso Premeditado: “As espécies são complexas na proporção das suas habilidades para se relacionarem (…) Ainda acreditamos que é possível ser plenamente criativo ou intelectualmente próspero sem olhar para nossas relações. Focamos nas exceções, nas histórias dos gênios com vidas afetivas devastadas, mas a ciência mostra que a uma vida intelectualmente produtiva costuma estar associada a uma maior estabilidade afetiva. Os afetos muito provavelmente estão na base da consciência”.

Essa necessidade de estabelecer vínculos e de “afetar” e de se “deixar afetar” pelo outro pode ser um importante ponto de partida.

Um exemplo dessa inter-relação entre os seres fica perceptível na história do suíço Ernst Götsch, um dos principais difusores dos sistemas agroflorestais no país. O pesquisador embarcou por aqui na década de 1980 e, desde então, tem transformado o caminho por onde passa. Criador da agricultura sintrópica (que consiste no uso mais racionado e consciente da terra), Götsch defende que, tal qual a terra, precisamos nos alimentar da diversidade de culturas para nos mantermos nutridos e vivos.

O método tem sido adotado em muitas regiões do Brasil e do mundo e se baseia na implantação dos ecossistemas originais de cada região, estimulando a diversidade das florestas, de acordo com as características locais. Tudo isso sem a utilização de agrotóxicos, adubos químicos e, o que é mais impressionante, sem irrigação. A umidade natural, enfim, é resultado da implantação desse sistema. Literalmente, se “planta” água.

Podemos trazer essa ideia dos ecossistemas para as organizações. A visão global da empresa, então, poderia ser comparada com a estrutura de uma floresta, considerando seu bioma como a cultura organizacional, com suas características próprias.

Como poderíamos “plantar” água nesse meio ambiente, aumentando, portanto, a produtividade dessa empresa? Se a relação dos conceitos pode ser análoga, a resposta também: intensificando os vínculos entre os componentes desse ecossistema, engajando-os no bem comum desse bioma. Mas como fazer isso?

No equilíbrio do ecossistema está o equilíbrio das partes que o compõem. Quando pudermos tratar a saúde (mental/emocional) de cada componente, replicaremos a saúde do organismo maior, que reúne todas as células. Portanto, partir da visão macro para a micro. Olhar o todo sem perder o detalhe.

Muitas ações de gestão esquecem que essa harmonia tem relação direta com o emocional e o mental de cada um dos componentes desse grupo humano. Somos seres que necessitam de vínculos para mantermos a energia produtiva. Vínculos são o combustível dessa estrutura maior. No entanto, nos falta esse entendimento mais sutil e ações que representem essa verdade.

 

PONTO DE TRANSFORMAÇÃO

Vivemos um momento de ruptura, de necessária e profunda mudança. Diante de nossos olhos, surge a evidência de que é preciso reajustar os padrões adotados e buscar formas alternativas de nos relacionarmos com a natureza, com essa árvore maior, da qual somos apenas um dos galhos.

A harmonia entre o humano e o meio em que vivemos já era tema das civilizações dos primeiros tempos, que não compartilhavam da visão antropocêntrica, do homem no centro do palco da vida. Somos parte, e eles sempre souberam disso.

Davi Kopenawa, xamã e líder yanomami, lança essa provocação aparentemente óbvia: “Será que o homem branco não sabe que se cortar a floresta vai parar de chover e se parar de chover não vai ter o que beber nem o que comer?”.

Da mesma forma, perguntamos: Será que as organizações percebem que são organismos vivos, compostos de células vivas, que precisam ser alimentadas de forma saudável para não desenvolverem desequilíbrios? Como está a gestão da sua empresa, considerando essa visão?

Photo by kazuend on Unsplash

Fontes:
SANTOS, Osório. Acaso premeditado: ensaio sobre a consciência e o mistério da vida. 1.ed. São Paulo, SP: Ed. do autor, 2021. Disponível em https://amzn.to/3IdZ58M

BBC Brasil. “Agricultores transformam deserto em floresta no Semiárido”. Disponível em www.bbc.com/portuguese/brasil-59157682

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