Segundo o dicionário Houaiss, esperança é sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; fé. A origem da palavra nos remete ao latim sperare, que nos convida a esperar, aguardar.
Mas será que a prática da esperança é tão simples assim? Como acreditar em algo pura e simplesmente? Como saber que vai dar tudo “certo”?
Há muito dentro do sentido de esperar
O conceito real de esperança nos propõe um esperar não passivo e vinculado com a razão e o sentir. De fato, não é sentar, aguardar e ainda saber que vai acontecer o melhor. Não. Esperança exige perseverança, robustez de pensamento. Foco no aqui e no agora, estar no presente — o único momento real — com a certeza do futuro como resultante do que fazemos a cada minuto. É o exercício da vontade potencializada na pausa, na preparação da espera, na expectativa do próximo acorde.
Em toda pausa se concentra a energia do contexto. São naqueles minutos que antecedem uma ação que percebemos o fluxo do que será desenrolado. A espera intensifica a força da ação. Prepara o próximo passo. Aumenta a importância do que está por vir.
Seja na música, em um discurso, na gestação de um novo ser, a pausa da espera produz e modela, reúne elementos, seleciona os melhores ingredientes.
Mundo corporativo
No mundo corporativo, também temos pausas. São momentos de preparação, capacitação, crescimento. Novos elementos são selecionados para seguir adiante e serem ampliados. Outros componentes são descartados, pois não se mostram úteis a essa nova fase.
O esperar exige paciência, virtude que aprimora a mente e o caráter, impulsiona a sabedoria e a ampliação do estado consciente. Esperar aflora a percepção, reavalia rotas, ajusta estratégias.
Esse é o coração do esperar entre dois momentos. Entender que o movimento é inerente ao humano e à evolução. Inclusive o movimento interno, primordial para o crescimento do eu. Momento de perceber que criamos nosso próprio mundo a partir das escolhas ou da inatividade, da ação ou da passividade.
A espera também nos direciona para o silêncio interior. Como na meditação, que propõe a prática da atenção totalmente focada na respiração. Experimente: respire três vezes, lentamente, pelas narinas. Perceba que a temperatura do ar que entra é diferente da temperatura do ar que sai, mais aquecido após circular pelos pulmões. Fique aí alguns instantes. Ouça todos os sons, externos e internos. Observe os pensamentos, como um observador de algo que não está em você. Deixe-os passar.
Na vida vista como um concerto monumental, vemos a melodia na alternância entre os sons e os silêncios. A pausa pontua a dualidade do som e do não som, do ritmo ativo e do passivo, nas notas mais agudas ou graves, que compõem a cadência da obra musical.
Como uma obra em construção, a vida também tem sua cadência e o ritmo proposto pelo maestro. Qual é o propósito da sua composição? Há harmonia na sua partitura? Provoca beleza o seu bailar? Sua partitura considera os acidentes naturais do caminho musical e os transforma no ponto alto para o próximo acorde? Que música é você? Como seu som afeta os que te rodeiam? Deixamos aqui essa reflexão. Que esperança sua música constrói? Esperança passageira, fugaz ou esperança em mundo que pode ser melhor?
Muito bom!
Bela reflexão!