A falta de sentido traduz-se em desmotivação, procrastinação e falta de coragem para adotar algumas mudanças, que no fundo sabemos que são necessárias
O filósofo Clóvis de Barros Filho, professor de ética na Universidade de São Paulo (USP), propõe uma analogia simples para pensarmos sobre o que seria uma vida com propósito: a história dos “caçadores de cenouras”. As cenouras seriam prêmios (muitas vezes insípidos) em direção aos quais canalizamos boa parte ou toda nossa energia, sem saber realmente por que ou se de fato os queremos. Vamos em busca dessas metas vazias apenas porque achamos que o natural seria desejá-las.
Por exemplo, quando entramos na universidade, ansiamos por um estágio. Uma vez selecionados pela empresa, passamos a desejar uma efetivação. Depois de contratados, cumprimos metas simplesmente porque devem ser atingidas, sem se questionar muito sobre o quanto realmente nos identificamos com elas. E assim vão surgindo novas cenouras e muitas vezes vivemos na ilusão de que estamos dando o melhor de nós mesmos.
Até que chega um momento em que, mesmo suspeitando que o sabor das cenouras já não é mais tão gratificante, continuamos no mesmo ciclo. A falta de sentido traduz-se em desmotivação, procrastinação e falta de coragem para adotar algumas mudanças, que no fundo sabemos que são necessárias.
Estamos falando de viver por metas que sejam plenas de sentido. Em conferir significado para a própria existência. Em fazer da vida cotidiana mais que uma espera ansiosa pelos fins de semana – que acabam simbolizando mais uma fuga da realidade do que lazer, como suspostamente deveria ser. A falta de motivação, se olhada atentamente, está presente não apenas no trabalho, mas em outros setores da vida – em relações afetivas pobres ou em happy hours que não têm nada de felizes.
É praticamente impossível separar trabalho e vida. É no trabalho onde passamos a maior parte de nosso tempo e depositamos nossos saberes e energia. Uma vida com propósito passa necessariamente por encontrar satisfação na trajetória de todos os dias e não apenas no alcance das metas.
O psicólogo holandês Arnold B. Bakker, pesquisador da motivação no trabalho, cunhou o termo “naturalmente engajado” para se referir a pessoas que conseguem colocar energia, otimismo e foco no que fazem. Independentemente do que fazem – o termo refere-se mais à atitude em relação ao trabalho que à função em si.
Então, você pergunta, qual o segredo para encontrar sentido no que se faz? Como se tornar “naturalmente engajado”? Não existem fórmulas prontas, mas certamente uma mudança de atitude diante da vida passa por uma alteração nos padrões de pensamentos que nos levam a crer que a desmotivação constante “faz parte”. Muitos desses pensamentos estão arraigados na mente desde a infância: têm origem nas primeiras vivências que serviram de base para construir nossas percepções de mundo – rejeições, percepções de mundo que nossos pais nos transmitiram, medos.
Analisar essas crenças e buscar ressignificá-las é essencial para nos conhecermos melhor, olharmos com cuidado nossas motivações, descobrir o que nos deixa cheios de energia e direcionar a vida nesse sentido. Pode ser o prazer em dividir o aprendizado com outras pessoas e ajudá-las a superar desafios; a alegria de desenvolver um projeto que se molda e se aperfeiçoa a cada dia; a satisfação de fazer parte da missão de uma empresa com a qual você se identifica, que seja. O importante é viver com propósito.