Considero a vida como uma sinfonia e, não por acaso, o cérebro já foi descrito pelo neurocientista Miguel Nicolelis como uma orquestra. E acrescento que a consciência representa o grande maestro, tema que desenvolvo no livro “Acaso premeditado: ensaio sobre a consciência e o mistério da vida”.
Nicolelis, em “O verdadeiro criador de tudo”, mostra que a expansão do cérebro humano foi concomitante ao aumento dos grupos sociais, ou seja, o desafio de se relacionar estimula o desenvolvimento das capacidades sociocognitivas em humanos. O neurocientista, inclusive, criou o termo Brainets, ou rede de cérebros, para descrever uma coleção de múltiplos cérebros humanos ou de animais que atuam de forma conjunta, como parte de um grupo social, que se formam e operam para atingir um objetivo comum. As Brainets, afinal, nos conectam uns aos outros.
Na realidade, Nicolelis propõe que tais Brainets definem quase que um verdadeiro “supra-cérebro coletivo”; um que passa a reger o comportamento de um grupo social coeso, seja ele um cardume de peixes, um passaredo, uma manada de búfalos, uma matilha de lobos ou, no caso de seres humanos, uma orquestra sinfônica, um time de futebol, um exército ou um país.
O mesmo raciocínio certamente valerá para grupos que convivem em ambientes corporativos e compartilham de objetivos comuns. Independente dos perfis empresariais, os diferentes grupos humanos se movem de acordo com as lideranças, que definem o tom que sua “orquestra” terá, considerando as peculiaridades de cada um desses conjuntos. Interessante pensar que antes de serem corporativos, eles são humanos, portanto, funcionam de maneira parecida, mesmo com suas naturais especificidades.
Se existe a formação de uma mentalidade de grupo, como se fosse um cérebro coletivo, o papel do líder será afinar a atuação desses “músicos” para que desempenhem um bom resultado sonoro, ou seja, que estejam em harmonia entre si para chegarem aos objetivos propostos para aquele grupamento de pessoas e a empresa como um todo.
Essa harmonia corporativa vai definir a qualidade dos resultados alcançados e, para isso, o líder precisará ser o maestro dessa orquestra, buscando maneiras de tornar o conjunto coeso e caminhando para um sentido comum, que precisa estar muito claro para todos.
Para que a liderança possa manter a saúde do clima organizacional, é fundamental que se harmonize as partes, localizando sons dissonantes e buscando afiná-los para trazê-los para a harmonia do conjunto. Este trabalho é o que vai garantir que esse cérebro coletivo continue saudável e atuante, gerando movimento para o corpo institucional.
Mas como fazer esse diagnóstico? Percebo que ações diárias, com acompanhamento interno e externo, podem detectar possíveis focos de desafinos e desarmonia, portanto, será preciso um plano de ação multidisciplinar, preventivo e constante.
Referências:
NICOLELIS, Miguel. Como vírus informacionais reprogramam Brainets humanas e vão gerar a era da pós-verdade. CNN Brasil, 1 set. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/colunas/miguel-nicolelis/tecnologia/como-virus-informacionais-reprogramam-brainets-humanas-e-vao-gerar-a-era-da-pos-verdade/. Acesso em: 16 out. 2024.
SANTOS, Osório. Acaso premeditado: ensaio sobre a consciência e o mistério da vida. 1.ed. São Paulo, SP: Ed. do autor, 2021. Disponível em https://amzn.to/3IdZ58M