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Aqui vale a máxima “conhecimento nunca é demais”: quanto mais habituado a resolver desafios cognitivos e a lidar com variedade de aprendizados, mais o cérebro responde melhor aos novos problemas que vão surgindo ao longo da vida

Por muito tempo se acreditou que o cérebro “nasce pronto” – isto é, bebês já nasceriam com o órgão completamente formado, com todos os neurônios que seriam usados ao longo da vida. A concepção era que essas células, sendo uma vez perdidas por lesões, doenças ou pelo envelhecimento, nunca seriam recuperadas. Grande engano. A ciência recente mostra que nosso cérebro produz células novas e se “rearranja” em resposta ao ambiente desde que somos um feto até o fim da vida, processo chamado de neurogênese. Nesse sentido, a ciência tem ajudado a derrubar um dos mitos mais improdutivos sobre o envelhecimento: o de que perdemos a capacidade de aprender coisas novas na medida em que ficamos mais velhos.

Na verdade, não é isso o que ocorre. É fato que a infância e o começo da adolescência são períodos conhecidos como “janelas de oportunidade”, isto é, são épocas extremamente férteis para adquirir bons (e maus) hábitos de vida, padrões de comportamento e aprendizados no geral, no nível intelectual e emocional. Daí a importância de propiciar ambientes com bons estímulos para crianças e jovens, pois o cérebro está estruturalmente em desenvolvimento: a área mais frontal do cérebro, responsável por habilidades mais refinadas, como planejamento de ações e tomada de decisões, ainda está sendo formada. No adulto, (e adulto aqui nos referimos a mais de 30 anos de idade, cerebralmente falando), a estrutura já está completa, mas o cérebro continua a se reorganizar funcionalmente. Para simplificar: cada vez que aprendemos algo novo, as redes que já temos formadas se reorganizam para dar conta das novas demandas. E aqui vale a máxima “conhecimento nunca é demais”: quanto mais habituado a resolver desafios cognitivos e a lidar com variedade de aprendizados, mais o cérebro responde melhor aos novos problemas que vão surgindo ao longo da vida.

Estudos de neuroimagem mostram que, à medida que envelhecemos, áreas maiores do cérebro são alocadas para solucionar problemas. Nesse momento, as pessoas que mais exercitam as aptidões cognitivas levam vantagem: são elas que melhor conseguem “reaprender” a usar suas habilidades.

Um termo muito usado na neurociência é “reserva cognitiva”, que descreve a resistência da mente a perdas cognitivas, decorrentes de lesões (como um AVC) ou do envelhecimento em si. Um volume cada vez mais robusto de trabalhos sustenta que pessoas que exercitam as habilidades mais refinadas do cérebro – como memória, raciocínio, empatia etc – têm maior reserva cognitiva. O neurocientista Ivan Izquierdo, maior autoridade mundial em memória, é taxativo ao afirmar que atores, professores e escritores, entre outras profissões que exercitam muito o cérebro, possuem uma defesa extra contra os efeitos do envelhecimento no cérebro, mantendo-se produtivos e criativos por muito mais tempo.

Por fim, nossa cultura tende a exaltar a juventude como um período crucial para colocar em prática os grandes projetos de vida, da mesma maneira que tende a tratar a maturidade ou a velhice como um hiato, uma etapa que se restringe a colher os frutos da juventude ou a chorar o leite derramado. Nada mais falho. Essa percepção tão pobre desconsidera os casos massivos de artistas que chegaram à maturidade artística na meia-idade, de CEOs que venceram desafios e recomeçaram após os 50, de anônimos que decidiram empreender quando de fato tinham bagagem de conhecimento e responsabilidade para tal. Está na hora de sermos mais realistas quanto às possibilidades que a vida nos reserva.

 

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