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Curioso perceber o impacto de um novo conhecimento sobre nós. Como uma criança, que olha tudo pela primeira vez, é possível nos encantarmos com algo que nunca havíamos visto ou nos dado conta. Foi assim que aconteceu com o Acaso Premeditado, de Osório Santos.

Já nas primeiras linhas, o leitor é convidado a deixar a arrogância de lado e perceber que existe vida em todo o seu redor. Depois de constatar a vida, o autor alerta sobre a inteligência dessa vida minúscula ou não, que permeia tudo e todos. A vida quer viver e encontra saída para todas as adversidades, por meio de estratégicas, cooperação, composição e união entre seres até de diferentes reinos.

Depois do baque de se achar um dissociado desse movimento universal, puramente biológico, vem outro golpe: nós, humanos, imitamos essa mesma natureza e copiamos alguns desses intrincados processos, mas não damos crédito a quem os criou. Soberba e megalomania que evidentemente nos trouxe até os dias de hoje e suas consequências: desequilíbrio na sustentabilidade do planeta e previsão de escassez de recursos naturais, como água e alimento, para manter a vida de mais de sete bilhões de seres. É como se tivéssemos que nos colocar na nossa real posição nesse mundo.

Perguntas e respostas

Por inúmeras constatações, fica evidente que a ciência tradicional sabe muito pouco sobre questões que povoam nossas vidas. Há mais perguntas que respostas e muitas dessas estão envolvidas em convenções, dogmas e crenças que distorcem um tanto (ou muito) a realidade. A própria realidade, inclusive, pode ser encarada por ângulos diversos e por vezes subjetivos.

Psicanalista de longa jornada e pesquisador inquieto, Osório investiga a ação da consciência em toda forma de vida, desde um minúsculo ser quase invisível ― como um vírus ―, passando pelos reinos mineral, vegetal e animal, até chegar no humano, presumido topo da cadeia, que mais destrói que constrói, apesar de ter ferramentas para muito mais.

Nas páginas que se seguem, conhecemos casos e mais casos da expressão da consciência e da inteligência em micro-organismos, aves, elefantes, plantas e ratos rakali da Austrália, por exemplo, que descobrem uma forma de comer sapos venenosos por meio de uma incisão cirúrgica e perfeita. Fica claro que não somos topo de nada e imitamos artifícios e manobras dessa tal natureza.

A obra mostra que, acessar verdades científicas ― estudadas pela Neurociência, pela Física Quântica ou pela Psicologia ―, de forma mais ampla, conectando dados com percepções, podem criar uma base para o entendimento de elementos da vida que passam a fazer mais sentido.

A imagem que me vem se liga a um comentário ouvido há muito tempo: “Como dizer que pensamentos não existem, já que não são visíveis, mas sabemos que existem porque pensamos e as imagens criadas são ‘reais’”? 

Osório elenca pequenos sinais que se inter-relacionam. Muitos deles estão conectados por aspectos emocionais ― angústia, medo, subjetividade, vínculos ― ou plurais, como a sincronicidade estudada por Jung.

Sinais?

É curioso imaginar que uma ameba demonstra reação diante de uma incisão ou ao toque. Ou que bactérias compartilham aprendizado em relação aos antibióticos e espalham a novidade entre os seus pares. E o que dizer sobre a rede de comunicação que liga os vegetais pelas raízes, tese defendida por respeitados cientistas que se dedicam a estudos sobre essa conexão entre as plantas? Trabalho de cooperação, que poderia ser exemplo para os humanos.

Há muitos sinais e eles estão por toda parte. Há muito que perceber, saber e sentir. Mas talvez a postura mais saudável seja a adotada pelo cientista, engenheiro, matemático, inventor, escultor, pintor, anatomista, arquiteto, botânico, músico e poeta Leonardo da Vinci, que, desde criança, observava os pequenos insetos e os via como um universo a ser entendido, explorado, admirado, com o olhar de “primeira vez”, sempre, até os últimos dias.

Onde encontrar o livro: clique aqui

Carmen Barreto é jornalista e radialista desde 1989, pós-graduada em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, pela ECA-USP.

Fonte:
SANTOS, Osório. Acaso premeditado: ensaio sobre a consciência e o mistério da vida. 1.ed. São Paulo, SP: Ed. do autor, 2021.

Photo by Hermes Ursini

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