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Podemos viver sem o outro?

Essa é o tema central no filme “Amor Sem Escalas”, 2009 (UP IN THE AIR), de Jason Reitman.  “Amor Sem Escalas” apresenta um retrato bastante acurado sobre as relações contemporâneas, tanto no nível das relações privadas, quanto no das relações interpessoais, no seio das corporações.

George Clooney interpreta o papel de um alto executivo de recursos humanos, Ryan Bingham, que viaja por todos os Estados Unidos para despedir trabalhadores para a grande corporação em que trabalha.

Ryan demite pessoas que ele nunca viu e sobre as quais ele não se interessa em saber mais do que o essencial. O executivo somente cumpre, com muita competência, o protocolo da empresa, insensível à vida e ao futuro das pessoas que demite.

O comportamento dele é análogo ao de muitos executivos e líderes que, preocupados com uma suposta eficiência de relógio, se esquecem que lidam diretamente com um material muito sensível e que é a base dos resultados em qualquer organização: o capital humano.

Nas cenas de demissão, o filme traz o depoimento e os dramas reais de pessoas que passaram pela difícil experiência de perder uma posição no mercado e todos os problemas que isso acarreta.

Sabemos que muitas vezes a demissão é inevitável, mas não podemos e não devemos deixar de nos sensibilizar, porque essa pode ser a história de qualquer um de nós.  Nesses momentos, vemos quanto o fator humano é o essencial.

O filme também fala sobre o uso da tecnologia e a alienação que dela pode prover. A desumanização das relações nas empresas.

Uma nova contratada, Natalie Keener, interpretada por Anna Kendrick, para cortar gastos, propõe demissão pela internet, através de conference calls. Uma das formas mais impessoais e inumanas que se pode imaginar no tratamento de pessoas, mas é bastante verossímil, levando em conta a realidade de muitas organizações.

Ryan tem uma vida que lhe agrada: quase não vive em sua casa, na pequena cidade de Omaha, em Nebraska. Ele literalmente não planta raízes, é um nômade emocional e faz questão de ser assim. Um viajante perfeito: organizado e eficiente, levando sua maleta leve pelos corredores dos aeroportos.  Ele gosta muito de seu estilo de vida e não parece ter nenhuma crise de consciência em relação ao seu trabalho.

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Como é também palestrante, viaja pelo país advogando sua filosofia e estilo de vida: “Relacionamentos são a bagagem mais pesada de nossas vidas”, “Não somos cisnes monogâmicos, somos tubarões”. Ryan quer que esvaziemos nossas bagagens relacionais, vivamos sem compromissos, sem responsabilidades, simplesmente para nós mesmos.

As relações de Ryan são sempre superficiais companheiros de viagem em um voo, uma aeromoça, uma amante ocasional em alguma cidade etc. Sua família já sabe que não pode contar com ele. Vive na superfície das coisas e na superfície tudo parece perfeito. Mas, o que ele não pode evitar é de se sentir em profunda solidão.

Amor Sem Escalas não é um filme que dá soluções fáceis. Sabemos que no mundo moderno a dinâmica do equilíbrio entre o indivíduo e o outro é sempre uma relação complexa.

Faz parte da sabedoria de um líder entender quando se deve priorizar ou ceder quando as circunstâncias demandam.

Em resposta à proposta de esvaziar as bagagens relacionais e viver como se não existisse responsabilidade ou compromissos, que tal tentar carregar com o outro?

A vida só tem propósito nas relações e nos vínculos que estabelecemos.

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