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Temos a tendência de pensar em dualidades para entender o mundo a nossa volta.

Contamos histórias com mocinhos e bandidos, heróis e inimigos, o lado bom e o lado mau, o sim e o não, o claro e o escuro…

Nas brincadeiras, desde cedo, as crianças dividem seus papeis imitando algum desenho animado: “Eu vou ser do bem; Eu vou ser do mal”.

Está claro quem é “do bem” pela aparência, fisicamente o herói é sempre bonito e é um doce de pessoa, além de tudo ele é justo, companheiro e capaz de se sacrificar pelos seus amigos.

Por outro lado o “do mal” é bem “do mal”! Tem uma aparência feroz, com uma estética que o aproxima à morte: uma caveira, olhos vazios, feio, decrépito. Isso somente tendo em conta o lado externo. Internamente o “do mal” é pura maldade: traiçoeiro, ganancioso, imoral… com aquela gargalhada arrepiante!

Crescemos e matizamos esses papéis, aos poucos entendemos que nem tudo é claro e escuro, existem muitos tons de cinza.

Mas será mesmo que nos livramos totalmente da concepção infantil de bem e mal?

Assumamos que não, vide as novelas, os filmes e a política internacional da “Guerra ao terror”. Uma luta midiática que revitaliza a velha retórica de caubóis contra índios, o civilizado contra o bárbaro, com direito a comemoração apoteótica como expressão de vingança.

Uma palavra e um conceito que resume esse comportamento é MANIQUEÍSMO.

A palavra que é sempre utilizada de forma pejorativa e indica um certo radicalismo nas concepções de bem e mal.

A palavra vem do nome próprio Mani, um profeta persa do século III que pregava uma visão dualista de um deus bom (Zurvan) e o deus mal (Ahriman).

Anjos e demônios.

Por outro lado os deuses gregos não eram tão “preto no branco”. São como nós seres humanos, complexos, levamos em dentro de nós aspectos bons e aspectos maus. Luzes de todas as tonalidades.

Entre os deuses gregos se destacam Apolo e Dionísio, que Freud usou para se pautar sua teoria do princípio do prazer e o princípio da realidade.

Se trata das duas figuras que ilustram o início do artigo.

Apolo é também apresentado por Nietzsche como o deus das formas, das regras, das medidas, dos limites individuais. O apolíneo seria a individualidade e a aparência. Apolo representa também o equilíbrio e a moderação dos sentidos.

Dioniso é apresentado como o gênio ou impulso do exagero, da fruição, da embriaguez extática, do sentido místico do Universo, da libertação dos instintos.

É o deus do vinho, da dança, da música. Dionísio representa o irracional, a quebra das barreiras, à dissolução dos limites dos indivíduos.

Temos em nós algo de Apolo e algo de Dionísio e dentro de qualquer instituição essa lógica se repete. Vale entender que aonde sobra um princípio falta o outro.

Consideramos as corporações como “seres” apolínicos, voltadas regras e padronizações, sobra Apolo e falta Dionísio.

Com isso não queremos defender os excessos, mas a criatividade que inevitavelmente quebra as barreiras e transforma o habitual em novidade.

Quando perdemos o medo do principio dionisíaco começamos a dar espaço para essa criatividade que é o motor gerador de uma cultura organizacional que não se basta somente na eficiência, mas busca também sentido inspiração em tudo o que faz.

Considerando esses padrões mais complexos de compreensão do mundo, já está na hora do mundo organizacional abrir seu leque de percepção.

Além do branco e o negro existe o cinza e uma variedade de cores e matizes que a razão e as palavras não conseguem catalogar.

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