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Grandes projetos podem até ser concebidos por uma só cabeça, mas certamente são colocados em prática por várias

Nossa cultura tende a valorizar o sucesso individual. No campo das artes e da ciência, é muito comum vermos o líder de um grupo que trabalhou com dedicação e de forma conjunta receber publicamente os louros por um Oscar ou um Nobel. Quando agradecem sua equipe não estão sendo apenas modestos, estão devidamente reconhecendo que grandes projetos podem até ser pensados por uma só cabeça, mas certamente são colocados em prática por várias! O mesmo acontece nas empresas.

Projetos bem-sucedidos são resultado de um trabalho muitas vezes prolongado e reformulado em vários aspectos enquanto foi desenvolvido. Esse trabalho foi obviamente conduzido por um líder, mas com certeza dependeu de mais pessoas que se alinharam em um mesmo objetivo. Desenvolver liderança demanda, antes de tudo, capacidade de olhar para os lados e reconhecer o valor das pessoas que acatam as suas propostas e trabalham para que elas se concretizem.

Estudos no campo da neuroeconomia já constataram – e isso é um padrão universal – que as pessoas tendem a rejeitar procedimentos e situações que consideram injustos. É um processo que vai muito além do racional, envolve circuitos psicofisiológicos de sobrevivência provavelmente moldados ao longo da nossa evolução como espécie. Vamos explicar melhor. Pesquisas que usam o “jogo do ultimato”, um instrumento muito comum em experimentos de economia, seguem o seguinte design: os pesquisadores, diante de dois voluntários, dão ao primeiro uma determinada quantia em dinheiro – este tem a opção de dar uma parte, o quanto quiser, para o outro voluntário, mas sabendo que, se o outro não aceitar, ele também não leva nada. O jogo é tipicamente jogado apenas uma vez.

Pensando sobre isso, podemos dizer, “Ora, mesmo que ofereça pouco, ambos ganham, logo o mais racional é que o outro aceite qualquer quantia que seja oferecida!”. No entanto, os resultados mostram que, quando os voluntários com poder de escolha oferecem uma proporção muito desequilibrada ao outro (20% do total dos ganhos, por exemplo), este tende a rejeitá-la – prefere não ganhar absolutamente nada a aceitar uma proposta que considera muito injusta! Enfim, estudos desse tipo mostram que nosso senso de justiça é inato. A ciência reforça o que a psicanálise já sabe há muito tempo: escolhas que fazemos na vida e a forma como avaliamos as pessoas não são nada objetivas.

Vamos trazer essa realidade para as empresas. Como você acha que um colaborador que participa de um projeto reage ao saber que o chefe da equipe é parabenizado e este toma para si os louros sem mencionar a equipe? Desmotivador, não? Receber um salário seria compensação e uma motivação mais que suficiente, como infelizmente muitos gestores acreditam? Uma equipe certamente encara um gestor que divide vitórias com outros olhos.

Um líder tem em mente que compartilhar é verbo-requisito para engajar. Aprender a compartilhar envolve reconhecer as próprias emoções e impulsos egoístas que nos impedem de olhar para o outro como partícipe de nossas conquistas. Que tal repensar sobre os efeitos a longo prazo de dividir os louros? Sobre as vantagens em termos de agregar a equipe e de manter ótimos colaboradores na empresa? Parafraseando a sabedoria popular, “uma andorinha só não faz sucesso”.

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