A maioria das pessoas não consegue se visualizar profissionalmente com 60 anos ou mais, acreditando que possivelmente estarão aposentadas – isso em um mundo que nos reserva, segundo estimativas, uma expectativa de vida próxima aos 100
Tendemos a atribuir uma solidez que não existe ao atual modelo de trajetória profissional, formado basicamente por três estágios bem delineados: formação escolar e acadêmica, experiência no mercado e, por fim, aposentadoria. Investimos na educação de nossos filhos ainda acreditando que o fim último da escola é criar condições para um bom posicionamento no mercado de trabalho, nos negando a enxergar que essa realidade já não está fazendo sentido nem mesmo para as gerações que estão atualmente ocupando cargos de gestão e colaboração em grandes e pequenas empresas.
Isso porque a “melhor educação”, que geralmente entendemos como estudar em escolas fundamentais e universidades de maior prestígio já há muito deixou de ser garantia para se destacar entre a média quando o assunto é ascensão profissional. É crescente o número de profissionais na casa dos 30 anos, que carregam em sua bagagem intercâmbios, cursos de idiomas e, não raro, mais de um diploma, com um histórico de experiências profissionais tímidas e dispersas. Esse contexto se torna ainda mais desafiador quando pensamos que a maioria das pessoas – incluindo esses jovens de 30 – não consegue se visualizar depois dos 60 anos, acreditando que possivelmente estarão aposentadas – isso em um mundo que nos reserva, segundo estimativas, uma expectativa de vida próxima aos 100.
Isso significa que não existem planos para os 40 anos de vida que acreditamos que passaremos improdutivos, sendo que as condições proporcionadas pela tecnologia e os avanços na saúde abrirão perspectivas ainda inimagináveis no campo das possibilidades profissionais. Se duvida, reflita se há dez anos você pegava seu celular para checar e-mail ou aplicativos de mensagens durante um jantar com sua família. As percepções de distância e de limitação serão cada vez mais subjetivas nos próximos anos. Logo, você ainda acha que faz sentido o modelo linear de carreira que prevê uma aposentadoria tendo a perspectiva de décadas de vida pela frente?
Nesse ponto, é interessante buscar o que dizem os especialistas, como a cientista britânica Lynda Gratton, especializada em gestão e na relação entre trabalho e tecnologia, professora da London Business School e autora do livro The Shift: The Future of Work is Already Here (“A mudança: o futuro do trabalho já está aqui”, ainda não lançado no Brasil). Segundo ela, o modelo linear educação-trabalho-aposentaria vai desmoronar e dar lugar a um novo modelo de múltiplos níveis. “Vamos estender o trabalho até uma idade avançada e criar mais períodos de descanso, recuperação e reciclagem durante a vida profissional”, explica a autora em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. “As empresas precisarão criar mais opções para permitir às pessoas períodos de descanso, de recuperação e de treinamento e estudo. Também devem entender que a idade não vai mais ter relação direta com o estágio da vida, já que cada um deverá usar as diferentes opções que existem para sequenciar a vida como achar melhor”.
E você, como está planejando uma vida profissionalmente mais produtiva em termos de décadas? Já parou para pensar nisso?
Em tempo, indicamos como inspiração a ótima entrevista de Gratton sobre o fim do modelo de carreira linear à Folha: http://bit.ly/2rQ1lfw.