As manifestações que estamos presenciando por todo o Brasil tem ocupado espaço significativo nas conversas de todas as pessoas que conheço. O curioso é que está muito parecido com futebol. É conversa de bar, pessoas invocando emoções das mais diversas para explicar o que aparentemente é inexplicável. A emoção de ser brasileiro e de pertencer a esse time.
O curioso em tudo isso é o que vem do inusitado, o brasileiro lutando por conquistas de uma forma totalmente nova. E é do novo que estou gostando.
O novo é o brasileiro colocar em pauta de forma coletiva reinvindicações que antes eram apenas objeto de reclamações. Reclamávamos de tudo – dos juízes de futebol aos juízes da suprema corte do pais. Quase sempre passionalmente o brasileiro se injuriava diante das injustiças e o que sobrava era sempre a velha frase- “Esse país não é sério!”.
O novo é o jovem se manifestar por questões que estavam adormecidas para seus pais. Corrupção é um exemplo concreto desse fato. Os pais, quero dizer, os acima de 40 anos, vinham jogando a toalha dia após dia, marcando com lamúrias e desencantos todos os pesados e tenebrosos casos diários apresentados pela mídia.
O novo é ver os jovens dizerem não aos partidos políticos. Parece terrível pensar isso em uma sociedade democrática por princípio. Dá um frio na espinha, vem a percepção de caos por toda parte e que o democrático vai se tornar em baderna. Mas temos que convir, é novo, portanto merece nossa atenção. No mínimo deveríamos perguntar: O que fizemos com esse país para nossos filhos se exporem sem liderança aparente definida? A primeira sensação é que não fomos bons exemplos.
O novo é sentir o coração bater mais forte por assunto que não seja crime e nem futebol. E aqui entra o que realmente estou gostando. Estamos mudando o foco do que é importante. Não é o criminoso que nos assusta diariamente é o sistema que os cria. Ouço à distância os jovens dizerem: não queremos em nossa luta quem nos empurrou para esse abismo social. Quando penso isso e sinto ser essa a grande reclamação, ou seja, quem nos fez tão injustos e que não mostra a menor intenção de mudar o rumo não merece estar aqui.
Reconheço que tenho medo da desordem, mas, mais forte que o medo que sinto, está o grande prazer que estou vivenciando ao ver esses jovens retomando o rumo da luta ética que minha geração e algumas anteriores à minha não tiveram a coragem de enfrentar.