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François Jacob, bioquímico e geneticista francês que dividiu o prêmio Nobel em fisiologia em 1965 com Monod, assim declarou: “Somos seres programados, mas programados para aprender”.

Aprendemos para nos apropriar do inédito, do novo em nossas vidas. Aprendemos para a melhoria das relações sociais, cognitivas, intrapessoais, intelectuais e das relações com a natureza.

Quando, na gestão do tempo de nossas vidas, desde nas pequenas ações do cotidiano aos nossos grandes projetos não incluímos a possibilidade do novo, o espaço para o assombro, para as surpresas ou mesmo um olhar um pouco mais amplo para enxergar e ver as nuances do mundo que se desdobra a nossa frente, tendemos a adoecer ou deprimir.

Isso nos diferencia dos animais. Lembremo-nos, por exemplo, de um pássaro:  o joão-de-barro que sempre constrói o seu ninho do mesmo jeito por anos e anos, o que o diferencia enormemente de um humano que irá criar, desenvolver e construir inúmeros e diferentes projetos de moradia. Nosso sistema perfeito traz um avançadíssimo sistema de elaboração mental que nos possibilita realizar infinitas relações que são intermediadas pela simbologia que expressa nossa  leitura de mundo, entendimento, compreensão dialética e sentimento…

Essas premissas nos ajudam a repensar o cotidiano e sobre a forma da utilização do tempo que deve levar em consideração as janelas de possibilidades para que o inédito se apresente.

Mas como esse inédito pode emergir?

Ofertar espaço e partilha para a expressão de nossos talentos pode ser um bom caminho. Podemos nos surpreender com nossa própria criatividade. Aguçar a curiosidade para novos aprendizados é outra rota possível…  Graças à curiosidade, muitos “desvelares” foram apresentados à humanidade. O homem com sua curiosidade e tentativas criou todos os processos de sobrevivência que temos hoje, do fogo a mais avançada tecnologia.  O inédito, por conta da programação que temos dentro de nós para aprender, vem sendo revelado em todos os segundos que giram em nosso mundo. Entretanto, muito do que já desvelamos, nem sempre trouxe benefício à humanidade, quando a inteligência foi utilizada apenas pautada na razão.

A empatia, a interpessoalidade, o autoconhecimento, se apresentam como outras rotas, ou seja, as das expressões mais subjetivas, como a oração, a poesia, a arte, a música, a ternura que representam outras faces da inteligência de um e interfaces com a inteligência dos outros como contribuições necessárias à evolução humana no sentido de bem comum.

Retomemos: somos seres programados para aprender e, portanto capazes de trazer o novo, o que não sabemos para nossas vidas; somos criativos; somos curiosos; inventivos e realizadores; somos não só objetivos; mas também seres subjetivos repletos de sensações e emoções.

Ora, mas como a rotina se apresentaria como um desafio se nós a concebemos como algo repetitivo e monótono?

No dicionário Aurélio (1988), rotina é um caminho já percorrido e conhecido, em geral trilhado maquinalmente. (…)  O Dicionário Universal de Educação e Ensino, escrito por Campagne, apresenta rotina como “um processo até certo ponto mecânico para fazer ou ensinar alguma coisa (…) No Dicionário Didático de Português encontramos um contraponto, ou seja, uma contradição, no conceito de rotina: “… o radical ruptor deu origem à palavra rota, mas também é a raiz de ruptura.”

Sem dúvida são reflexões importantes para nosso tema. A rotina pode ser conceituada como uma rota planejada em que há espaços para a entrada da surpresa e do assombro. Rota, para adentrarmos ao mundo das relações, da curiosidade, do conhecimento já concebido e o que está ainda por ser.

Isso exigirá de todos nós uma boa dose de logística – estamos falando do uso da razão para que o tempo seja plenamente experienciado.  Estamos também falando do uso da subjetividade para abrir caminhos, por onde devem passar os desafios do inédito e da inspiração.  A visão global do ser humano, sua compreensão e entendimento podem promover em nós, novas formas de utilização do tempo para descortinarmos novas faces do conhecimento, de trazer novos objetivos e olhares para nossos próprios talentos e expressá-los plenamente e solidariamente no percurso de  nosso viver.

Entendimento – Tempo – Conhecimento – Talento…  Rimas que se complementam, tornando harmônicas nossas proposições do mundo objetivo e do mundo subjetivo na formação de um ser humano que é programado para aprender de forma não segmentada e sim, plena, para uma  sociedade mais acessível e possível.

Autora: Silmara Rascalha Casadei – Autora de Livros Infantis. Pedagoga. MBA em Desenvolvimento e Gestão de Pessoas. Doutora em Educação, pela PUC/SP. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo.

Bibliografia Consultada:
Barbosa, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas na Educação Infantil. Artmed Porto Alegre.2006
França, Hudson Hübner. O homem e seu Coração. Artigo publicado na Revista Suplemento Cultural. Fevereiro de 2008
Freire, Paulo. Política e Educação. Villa das Letras Editora. 8ª edição. São Paulo. 2007
Jacob. François. Nous sommes programés, mais pour apprendre. Les Courrier de L’Unesco. Paris. Février, 1991.
Machado, Nilson José. Casadei, Silmara Rascalha. Rascalha Michele. Seis Razões para Cuidar bem do Planeta Terra. Escrituras Editora. São Paulo 2008.

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