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A oposição entre razão e emoção está profundamente enraizada na cultura ocidental. No século 17, o filósofo René Descartes – autor da máxima “Penso, logo existo” – lançou os alicerces do pensamento moderno ao afirmar a supremacia da razão sobre a emoção. Suas ideias seriam o alicerce das revoluções científicas que sucederam nos séculos seguintes: o pensamento racional, o método científico, seria o único meio de obter conhecimento verdadeiro.

Como essa crença persiste nos dias de hoje, mais especificamente no mundo corporativo? Pense nos adjetivos que uma pessoa que se considera um bom líder não raro costuma se descrever: estratégico, calculista, racional, pouco influenciável – são alguns exemplos. No entanto, a “razão fria” tem se mostrado, na realidade, uma percepção enganosa. Estudos recentes no campo da neurociência apontam para a total impossibilidade de um pensamento puramente racional – teoria proposta pelo consagrado neurocientista Antônio Damásio, que estudou o comportamento de pessoas que sofreram lesões na área pré-frontal do cérebro, associada à integração de cognição e emoção. Esses indivíduos revelaram desde então grande dificuldade para tomar as decisões cotidianas mais simples, mesmo tendo intactas suas capacidades cognitivas, avaliadas por testes psicométricos.

Ou seja, todas as nossas decisões são influenciadas pelas emoções – Damásio fala nos marcadores somáticos: uma espécie de memórias psicobiológicas, profundamente atreladas a contextos e histórias de vida, a pessoas e situações. Toda decisão, da mais simples à complexa, buscaria subsídio nesse arquivo de memórias, fazendo de todo processo de pensamento uma interação entre razão e emoção.

Logo, estamos todos sujeitos aos mais variados tipos de vieses (bias). Daí a necessidade – e prova de inteligência – em buscar opiniões diversas e abrir espaço para a experiência de colegas e subordinados ao fazer planejamentos e pensar decisões. A consciência de que muitas vezes agimos de forma automática e inconsciente nos torna mais abertos a ouvir e observar o outro, criando um senso de equipe. Dessa perspectiva, as melhores (e literalmente as mais racionais) decisões podem ser aquelas tomadas em conjunto.

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