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Todos nós vivemos nosso complexo de inferioridade em grau menor ou maior. Uma manifestação comum desse mecanismo é o castelo fictício de sucesso pessoal e profissional que muitas pessoas constroem em torno de si – e não raro tentam envolver os outros em suas fantasias de autoafirmação

Nos primeiros anos do século 20, Adolf Adler, aluno de Sigmund Freud, cunhou o termo “complexo de inferioridade”, sem imaginar a importância que a exploração desse conceito teria para a psicologia décadas depois. Esse conceito refere-se, basicamente, a experiências que todos nós passamos nos primeiros anos de vida, as quais nos mostram que nem sempre (ou quase nunca) podemos ser considerados prioridade ou ter domínio das situações. Por exemplo, a criança mais velha que sente tristeza e raiva ao ver a mãe concentrar seus cuidados em seu irmão bebê, o menino que sente rejeição ao ser deixado de fora de um jogo por ser pequeno ou menos esperto, entre tantos outros exemplos. Segundo Adler, em muitas pessoas, o ego marcado pelo complexo de inferioridade se defende criando fantasias psíquicas de superioridade. É, assim, constituída uma teia psíquica que persiste até a vida adulta, de forma mais ou menos sutil.

Importante lembrar que todos nós possuímos inseguranças e vivemos nosso complexo de inferioridade, em grau menor ou maior. Uma manifestação comum desse mecanismo é o castelo fictício de sucesso pessoal e profissional que muitas pessoas constroem em torno de si – e não raro tentam envolver os outros em suas fantasias de autoafirmação. Em um artigo publicado na revista Psychology Today, a doutora em psicologia Susan Krauss, professora de ciências do cérebro na Universidade de Massachusetts-Amherst, analisa como o complexo de inferioridade costuma se manifestar especificamente no mundo corporativo. Listamos aqui algumas das observações de Krauss sobre alguns desses comportamentos:

  • Necessidade de ser o centro das atenções

Inseguros precisam alimentar suas fantasias de superioridade. Ao manterem uma conversa com uma pessoa ou com um grupo sentem uma necessidade irracional de atrair o foco para si, raramente admitindo que outras pessoas tenham histórias, experiências e pontos de vista tão valorosos quanto os seus próprios. Talvez seja o comportamento mais representativo de insegurança camuflada em autoafirmação: o inseguro que vive sua fantasia de superioridade ressente-se com a atenção que o outro recebe, podendo reagir de forma passivo-agressiva (não prestando a mínima atenção ao que o outro diz, por exemplo) ou buscando ativamente trazer o foco novamente para si.

  • Imprime importância a tudo o que faz

Em sua experiência com pessoas com esse perfil, Krauss verificou um comportamento frequente: buscam conferir importância a suas tarefas mais cotidianas. Usam termos como “conference call”, “reunião de comitê executivo”, “talk” para descrever seus compromissos. Deixam claro por todos os meios que recebem mais e-mails e contatos do que podem responder e são convidados para mais eventos do que podem participar. “Basta visitar o LinkedIn dessas pessoas – um olhar mais atento logo detecta que a descrição da importância dos cargos e da quantidade de habilidades muitas vezes é exagerada”, diz Krauss.

  • Acreditam que “quem tem tempo não é importante”

Uma maneira de afirmar importância é agir como tivesse uma série de urgências a serem resolvidas. Criam uma ficção (na qual elas mesmas acreditam) entre colegas, familiares e amigos de que é praticamente impossível conseguirem um horário em sua agenda. “Têm como padrão se atrasar para encontros, mesmo quando marcam. Comportam-se como se fosse natural fazer os outros esperarem, colocando-os forçadamente numa posição de menor poder”, diz Krauss.  Ironicamente, CEOs de sucesso são taxativos sobre o tempo livre que direcionam para seu descanso e interação com a família.

Essas observações podem ajudar você a identificar tais comportamentos em si mesmo ou em outras pessoas. Sobre como começar a atentar para o complexo de inferioridade e suas consequências devastadoras, Krauss é clara: “Parte sempre de um padrão de fazer o outro sentir-se inferior; a sensação ao sair de uma interação com uma pessoa assim raramente é positiva”.

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