Nossa sociedade se alimenta do exibicionismo, mas paradoxalmente valoriza muito a modéstia. Isto é, gabar-se direta e expressamente das suas qualidades em público chama atenção, sem dúvida, mas pode ser mal visto. No entanto, é saudável querermos divulgar nossas vitórias e qualidades – o que pode e deve ser feito respeitando alguns limites
A palavra inglesa bragging pode ser traduzida como “gabar-se”, isto é, tentar chamar atenção para as próprias qualidades ou feitos, geralmente de forma disfarçada. O bragging é uma maneira de autoafirmação – todos nós vez ou outra nos gabamos de algo e até certo ponto é saudável querer compartilhar nossas conquistas. Isto faz parte da construção da nossa autoestima. No entanto, faz-se interessante discutir as proporções que a autoafirmação tomou com o avento das redes sociais, pois no terreno virtual somos os construtores da imagem que queremos passar para o mundo.
Apesar de extremamente comum, o bragging ainda é pouco estudado pela psicologia. Recentemente, porém, tem chamado a atenção de pesquisadores que estudam narcisismo e autoestima. Um deles é a psicóloga social Susan Speer, da Universidade de Manchester, que cunhou o termo self-praise (“autoelogio”, em tradução livre) e estuda a psicologia da autoafirmação. Seu trabalho é imensamente interessante, pois nossa sociedade se alimenta do exibicionismo, mas paradoxalmente valoriza muito a modéstia. Isto é, gabar-se direta e expressamente das suas qualidades em público chama atenção, sem dúvida, mas pode ser mal visto. No entanto, é saudável querermos divulgar nossas vitórias e qualidades – o que pode e deve ser feito, desde que com bom senso.
Nesse sentido, Speer analisou as múltiplas formas que o bragging ocorre na nossa sociedade. Aqui, vamos explorar as conceituações da pesquisadora, exemplificando com casos muitos comuns que ocorrem no grande palco de exibição e insegurança da atualidade – o Facebook, que não é apenas um perfil social, mas também profissional, onde as pessoas divulgam informações estratégicas sobre suas habilidades e achievements.
- Bragging direto – “De fato eu tenho muitas qualidades”
É o autoelogio direto, que nem sempre pode ser bem visto. Pesquisas que usam escalas de pontuações em narcisismo relacionam essa tendência a narcisistas do tipo “aberto”, isto é, que têm autoestima elevada e se consideram auto-eficazes. “Grato por ser o primeiro da empresa a inovar nesse campo”; “Consegui em pouquíssimo tempo encontrar a solução que ninguém antes de mim conseguiu”, são alguns exemplos. Interessante pontuar que quando se mostram gratos é geralmente a si mesmos ou, muito comum, ao “Universo”, à “vida”, raramente a colegas.
- Bragging indireto – “Meus colegas (quem convive comigo) são o máximo”
Uma forma mais sutil de autoelogio, muito frequente. Consiste em divulgar o sucesso de um colega ou ex-colega, deixando nas entrelinhas que participou de alguma forma disso. “Quando eu e Fulano estávamos aprendendo juntos sobre isso”; “Nós conversamos muito sobre esse assunto em que hoje ele é uma referência”, entre tantos outros exemplos.
- Bragging queixoso – “Como é difícil ser tão requisitado”
A pessoa “reclama” de como é requisitada pelas outras e tem agenda cheia graças à sua eficácia e sucesso. “Cansado de cortar o oceano para participar de mais um evento na Europa”; “Queria ter espaço na agenda para poder participar de todos os projetos que me convidam” são algumas variações comuns desse tipo de autoelogio.
Segundo Speer é natural autoelogiar-se e cair nessa tentação tem sido muito mais comum nos tempos atuais, em que podemos fabricar a melhor versão de nós mesmos a ser mostrada nas redes sociais e outros meios virtuais. O importante é encontrar o equilíbrio entre compartilhar conquistas reais e comprováveis (e assim construir uma imagem favorável) e a tentativa de se autodestacar de qualquer maneira, o que apenas reflete insegurança.