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A “descoberta” do que chamamos de propósito vem da experiência e autoconhecimento. É ao longo da vida e das oportunidades profissionais que vão aparecendo que aprendemos a identificar o que nos causa real satisfação. E, por incrível que pareça, muitas vezes a satisfação é o outro lado da moeda do que mais nos causa medo

Muitas pessoas buscam ajuda de um coaching profissional trazendo a seguinte questão: não identificam sentido em suas carreiras ou caminham ano após ano com uma sensação permanente de insatisfação no trabalho, a despeito de conquistas e promoções.  Nesse sentido, faz-se interessante explorar o tema “propósito de vida”, tão simples e complexo ao mesmo tempo.

Uma das definições mais certeiras sobre esse assunto foi elaborada pelo escritor e pesquisador Joseph Campbell, um dos pensadores-chave do século 20 e da cultura ocidental: “propósito”, em suas palavras, seria encontrar o que faz “o coração vibrar”. Campbell cunhou o termo bliss para se referir à sensação de plenitude de se estar exercendo o próprio potencial em sua excelência, quaisquer que seja a atividade profissional.

Note que bliss não tem necessariamente a ver com “prazer”, mas com “sentido”.  Muitas pessoas acreditam numa visão simplista e superficial de que o trabalho com sentido é necessariamente aquele que envolve prazer contínuo. Bem pouco realista – apesar de muito disseminada em nossa cultura que exalta a noção de talento ou “dom” – essa visão apregoa que falta de motivação ou o mero aparecimento de dificuldades são sinais de que uma pessoa não está trilhando o caminho profissional correto.

Somos bombardeados pela mídia e as redes sociais com histórias de pessoas que sabiam o que “queriam da vida” desde crianças ou que desde cedo se encontraram profissionalmente, tendo todo espaço para exercer seus talentos e habilidades. Tais histórias, se não são falsas, são muito raras, podemos afirmar.

A “descoberta” do que chamamos de propósito vem da experiência e autoconhecimento. É ao longo da vida e das oportunidades profissionais que vão aparecendo que aprendemos a identificar o que nos causa real satisfação. E, por incrível que pareça, muitas vezes a satisfação é o outro lado da moeda do que mais nos causa medo.

Exemplos não faltam: a pessoa com enorme receio de falar em público e de receber críticas que sente a bliss justamente quando domina seus medos e faz uma palestra; um gestor que “não suporta” receber sugestões de seus funcionários que, depois de muitos conflitos, aprende a ouvir alguns membros da equipe e sente os projetos começarem a andar; aquele colaborador com dificuldades enormes de concentração que, depois de certo esforço, entra num estado de foco total, e sente a bliss ao dar formas para a apresentação de um projeto.

São tantos exemplos, que podemos afirmar que se conscientizar da “missão” de vida passa necessariamente por se conscientizar dos desafios que estão aparecendo. A escritora Diana Raab, PhD em psicologia pela Universidade Sofia na Califórnia, autora de vários livros sobre o tema do propósito ou bliss, compara o processo de descobrir o propósito com um mapa de caça ao tesouro, que envolve estradas que nem sempre dão onde gostaríamos que dessem, obstáculos, alguns prêmios durante o caminho. O que não se deve é permanecer parado no mesmo lugar. Vencer primeiro as dificuldades da trajetória cria as condições para poder apreciar a vista e vislumbrar novos caminhos.

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