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Essa crença é um mecanismo de defesa rudimentar para evitar rejeições. No entanto, se por um lado nos protegemos dentro da “concha” da aparente segurança de não tentar, permanece o desconforto de que poderíamos estar galgando degraus mais altos, explorando nossos potenciais

Com frequência, deparamos com cases de profissionais que se queixam de estagnação na carreira, de falta de oportunidades ou, algo bem comum, dizem que simplesmente não são enxergados pela diretoria da empresa ou pelo mercado em que atuam, a despeito de seu bom preparo técnico e achievements na sua área.  Num olhar mais superficial, fica realmente complicado dizer o que não vai bem e a culpa geralmente recai sobre o longo período de crise que está afetando a economia em geral ou sobre a cultura da empresa, que não valoriza os talentos. Mas será que o problema se resume a fatores externos?

Nossa experiência em aperfeiçoamento de gestores e estudo das relações organizacionais mostra que não. Nesse sentido, vale a pena abordar uma forma de auto-sabotagem muito comum: profissionais que têm todas as suas atitudes guiadas pelo medo da rejeição. Isto é, a possibilidade de receber críticas ou de ter ideias negadas é motivo suficiente para que permaneçam “dentro da concha”, desempenhando as funções que lhe são atribuídas com louvor, mas sem se arriscarem a algumas posturas proativas, que são mais do que saudáveis no mundo corporativo: fazer sugestões, propor-se a assumir novas tarefas, fazer um curso de gestão e se preparar para oportunidades futuras, entre tantas outras possibilidades, que ficam enterradas sob o velho medo de não ser considerado “bom o suficiente”.

Acontece que a rejeição – sentimento que afeta a todas as pessoas, sem exceção – faz parte da nossa vida diária. Sempre. Vai desde a negativa de um amigo para um encontro até a falta de retorno de uma empresa que ficou de dar uma resposta sobre uma promissora vaga de trabalho. Podem parecer exemplos corriqueiros, mas que moldam, muitas vezes, nossa forma de reagir ao mundo e de pensar no futuro. Explico: tendemos, como humanos que somos, a elucubrar sobre os possíveis motivos que levaram nosso amigo a rejeitar passar algum tempo conosco ou a empresa a não nos responder. E essa elucubração raramente é positiva: acreditamos que não somos uma companhia interessante, no caso da rejeição social, ou que não temos a qualificação necessária, no caso da rejeição profissional. Sendo que os motivos podem ter sido vários outros, que fogem a nosso alcance.

Essas pequenas perdas cotidianas afetam a estrutura emocional e comportamental de pessoas que ainda não desenvolveram uma visão mais realista da rejeição e recursos mentais para não se desvalorizar diante das negativas da vida. Muitas pessoas talentosas se habituam a trabalhos medianos ou recusam participar de processos seletivos em empresas que gostariam de trabalhar simplesmente pelo receio de receberem uma negativa.

Por que isso ocorre? Os sentimentos de rejeição têm raízes profundas, que remontam às primeiras experiências da infância. Desde cedo, aprendemos a técnica de defesa contra a dor da frustração evitando criar grandes expectativas sobre nós mesmos.  A crença de não ser bom o suficiente é um mecanismo de defesa rudimentar para evitar rejeições. No entanto, se por um lado nos protegemos dentro da “concha” da aparente segurança de não tentar, permanece o desconforto de que poderíamos estar galgando degraus mais altos, explorando nossos potenciais.

Um dos princípios básicos de um trabalho sério de coaching é analisar as crenças que o cliente tem sobre si mesmo. E podemos dizer que, frequentemente, o medo de rejeição se expressa das mais variadas formas: da estagnação em determinado ponto da carreira até o perfeccionismo que impede a pessoa de concluir os projetos mais simples. E você, como o receio de não ser bom o suficiente afeta sua vida?

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