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O processo de preparação para atingir uma meta, a estratégia em si, é muitas vezes solitária e silenciosa – os “aplausos” para o ego, isto é, as recompensas, virão depois da conquista, não durante a jornada, e isso desmotiva muitas pessoas

Em 1916, Sigmund Freud escreveu o artigo Os que fracassam ao triunfar, sobre o alívio que muitas pessoas sentem quando encontram justificativas para desistir de seus planos, o famoso “medo de ser feliz“. A autossabotagem é um mecanismo de defesa de nosso inconsciente para evitar grandes frustrações. Ela está muitas vezes por trás da procrastinação e da desmotivação.

Vamos falar um pouco de neurociência. Nosso cérebro é voltado para buscar recompensas de curto prazo. De forma que persistir por muito tempo em um objetivo que será atingido apenas depois de muito tempo e esforço é desafiador para nossa estrutura cerebral, que é programada para economizar energia. A autossabotagem funciona, basicamente, para manter as coisas como estão. Quer um exemplo? Uma pessoa almeja o cargo de liderança em sua empresa e sabe que tem várias habilidades para isso. Ela sonha com essa conquista e sabe que sentiria realizada se pudesse desempenhar esse cargo. No entanto, ela pensa que, para chegar a esse lugar em sua carreira, seria necessário um caminho muito trabalhoso: teria que cultivar melhor seu networking, sendo que é algo que evita, ou investir em um curso no exterior durante as férias (que preguiça!). Logo começam a passar pensamentos pela sua mente de que ela pode aguardar um pouco mais para colocar esses planos em prática, esperando um momento mais propício – momento esse que nunca chega. O sonho e mesmo a estratégia estão lá, mas nunca faltam justificativas para não ter ainda começado.

Acontece que nosso ego é frágil e se satisfaz quando é alimentado. O processo de preparação para atingir uma meta, a estratégia em si, é muitas vezes solitária e silenciosa – os “aplausos” para o ego, isto é, as recompensas, virão depois da conquista, não durante a jornada, e isso desmotiva muitas pessoas. Tanto que uma estratégia contra a autossabotagem, muito aplicada pela psicologia cognitiva, consiste em desmembrar os planos em etapas recompensadoras. Voltando ao exemplo do cargo de liderança: o estrategista pode começar traçando metas menores e realistas, porém relacionadas ao objetivo final, como concluir um curso de curta duração, desenvolver melhor o inglês em uma viagem de poucas semanas, frequentar um evento específico com a finalidade única de trabalhar seu networking. Cada etapa funciona assim como uma pequena vitória que alimenta o ego e traz motivação para galgar mais um degrau.

Outra artimanha da autossabotagem são as comparações e projeções não realistas. Tendemos a reconhecer o lugar de destaque que pessoas de nossa admiração ocupam (e que muitas vezes gostaríamos de ocupar), mas raramente nos perguntamos sobre os desafios que elas enfrentaram em sua trajetória para chegar onde estão. A autossabotagem tem o hábito de atribuir as conquistas alheias à sorte ou a talentos naturais que nós não possuímos. “Ele conseguiu estar onde está porque conheceu as pessoas certas”; “A pessoa já nasce confiante”, são alguns exemplos de pensamento da mente sabotadora.

Por fim, apenas o autoconhecimento pode nos ajudar a identificar como a espiral da autossabotagem atua em nossas vidas, nos mais diversos campos. Alisando-nos, com a ajuda de coaching profissional, por exemplo, podemos aprender a reconhecer pensamentos que bloqueiam a nossa produtividade, que nos paralisam, que nos impedem de traçar e empreender estratégias. E, assim, aprender a conter essa espiral. Como bem escreveu Dostoievski: “saber por que se é infeliz é uma grande felicidade”.

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