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Um homem caminha no deserto, o sol a pino castiga seu corpo, não há mais nenhuma gota de água em seu cantil… De repente logo adiante ele vê palmeiras, uma fonte de água cristalina, um banquete, odaliscas…

A essa altura já sabemos, pela nossa experiência com histórias de que essas imagens se tratam de uma MIRAGEM.

Assim é o reino das aparências, a imagem que nos transmite é de fartura, beleza e satisfação. Mas, o que encontramos ao chegarmos perto é simplesmente mais deserto, mais sol, mais dunas.

A crise que atingiu em cheio os países ricos foi muito mais do que financeira. É um sintoma profundo que tem vários desdobramentos e atinge todas as áreas da vida contemporânea: a questão da essência versus a aparência.

A onda do tsunami continua a derrubar as peças ocas de dominó uma por uma: Grécia, Irlanda… e a última peça que caiu recentemente, Portugal, modelo muito didático para entender o quão prejudicial é trocar a realidade da essência pelo virtual da aparência. Uma realidade que o Brasil deve observar cuidadosamente se não quiser padecer do mesmo mal.

Os momentos de boom da economia são também momentos em que as miragens aparecem; o clima eufórico e o crédito barato tendem levar o governo e o povo a se endividarem catastroficamente. O valor imperante é a imagem, uma casa maior e mais moderna, roupas, gadgets, banquetes…

Ouro de tolo.

Essa mesma dinâmica acontece nas relações interpessoais no mundo corporativo. A imagem é um fator importante nas corporações, mas somente se acompanhada da essência, de um conteúdo que se refere a essa imagem.

Um corpo bonito não é sinônimo de um corpo saudável.

Como um cacoete da moda, as empresas querem transmitir uma imagem de sustentável, de atuação social responsável. Mas será que esse bom mocismo vai além da publicidade?

O mais importante: como está a saúde do corpo dessa empresa?

O clássico conto de fadas de autoria de Hans Christian Andersen “A Nova Roupa do Rei é uma parábola bastante acurada sobre o Reino das Aparências.

Um bandido se faz passar por um alfaiate e diz ao rei que poderia fazer uma roupa muito bonita, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, vaidoso, aceita a proposta.

O falso alfaiate finge tecer uma roupa com fios invisíveis e apresenta ao rei, e aos seus ministros e lacaios.  Todos elogiam a roupa do rei, apesar de não verem roupa alguma, temem ser considerados ignorantes.

O rei, então, organiza uma grande parada para desfilar e apresentar suas “novas roupas” a todos súditos do reino. Mais uma vez todos fingem ver as “magníficas roupas”.

Até que uma criança grita revelando a nudez do rei.

Nesse momento o rei se dá conta da farsa, mas é tarde demais, o bandido manipulador já levou um baú cheio de riquezas em troca de seus “serviços”.

Não é a toa que é uma criança que desmascara a farsa. A criança, com sua inocência, enxerga o óbvio, ao contrário do teatro absurdo dos adultos.

Todos temos capacidade de enxergar a realidade, mas a atitude conservadora, a pose de inteligente e de auto-suficiência nos impede de tomar uma atitude de coragem. O engano da aparência muitas vezes substitui a simplicidade da essência.

Só vamos nos livrar do reino das aparências e das miragens quando, assim como a criança do conto gritarmos com todo nossas forças quando for necessário:

“O REI ESTÁ NU!”

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