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No ocidente a individualidade é um valor imperativo. É uma afirmação bem aceita de que se uma pessoa não faz escolhas de acordo com sua individualidade, não faz boas escolhas. Será que isso de fato é verdade?

A pesquisadora norte-americana, professora da Columbia Business School Sheena Lyengar estuda os processos de escolha de acordo com diversas culturas e aponta algumas diferenças que nos ajudam a refletir melhor sobre nossos próprios processos de escolha.

O que devemos levar em consideração quando fazemos escolhas?

Em uma palestra no conhecido site de divulgação de idéias TED Sheena dá um exemplo de quando morou no Japão: Um dia em um restaurante ela pede um chá verde com açúcar, o garçom responde dizendo que como todo mundo sabe, não se coloca açúcar no chá verde.

Sheena diz saber desse costume JAPONÊS, mas de qualquer maneira ela quer açúcar no SEU CHÁ.

Mais uma vez o garçom responde que não se coloca açúcar em chá verde e como Sheena insistia o garçom foi chamar o gerente do restaurante!

Depois de uma discussão mais ou menos cordial, o gerente finalmente diz que eles não tem açúcar. Sheena, então, pede um café.

Quando chega o seu pedido, qual não foi sua surpresa constatar dois sachês de açúcar ao lado da xícara de café!

Esse episódio corriqueiro a ajudou a refletir sobre nossas idéias a respeito das escolhas.

No ocidente esse episódio seria um desrespeito básico as regras de escolha do consumidor. Mas, na perspectiva japonesa o garçom estava preservando a tradição e o costume. Nas palavras da própria Sheena “protegendo-a” para não fazer uma escolha cultural “errada”.

De acordo com a pesquisadora a perspectiva ocidental não é a única e suas suposições nem sempre representam a verdade. Algumas das suposições seriam:

  • Sempre melhor fazer suas próprias escolhas;
  • Quanto mais opções, melhores são as escolhas;

A escolha no ocidente é uma afirmação da individualidade, mas não necessariamente representa uma garantia de ser a melhor das escolhas possíveis.

O processo de escolha de muitas culturas não é uma forma de afirmar e definir sua individualidade, mas uma forma de criar comunhão e harmonia por afirmar as escolhas de pessoas que elas confiam e respeitam em nome de um bem comum. Nesse caso há a expressão da escolha de um indivíduo, não mais unitário e sim coletivo.

A diferença aqui é que as escolhas de um indivíduo está interrelacionada a escolha dos outros indivíduos fazendo com que o processo de escolha seja um fenômeno coletivo.

Esse aspecto é extremamente importante na cultura organizacional. A escolha dos colaboradores deve representar e está de acordo com o bem coletivo e muitas vezes é necessário abrir mão de escolhas individuais para preservar a harmonia e a bom funcionamento do todo.

Nem todos podem ter a prerrogativa da escolha em uma corporação. O papel do líder está exatamente em representar o desejo da escolha de muitos que nele depositam sua confiança e seu respeito.

Mas, nem sempre é o líder faz as escolhas, assim como os colaboradores abrem mão de algumas das suas escolhas para o bem da organização, o líder também pode abrir mão de algumas de suas escolhas, delegando aos colaboradores decisões que o líder individualmente, muitas vezes não seria capaz de eleger da melhor forma.

Faz parte da sabedoria do líder lidar com essas complexidades no equilíbrio hierárquico das decisões.

Quanto à idéia de que a quantidade de opções redunda em boas escolhas, se refletirmos mais profundamente veremos que é uma suposição totalmente infundada.

Quanto mais opções, maior a possibilidade de que muitas das opções sejam insignificantes e supérfluas, lado a lado com opções importantes e necessárias.

Na era da informação e de quase ilimitadas opções o líder deve cada vez mais exercitar o olhar para diferenciar o necessário do supérfluo.

O momento de reflexão antes da escolha não é perder tempo, é o puro exercício da LIDERANÇA.

Quem quiser se aprofundar, vale a pena ver a palestra de Sheena Iyengar no TED:

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