O estudo CEO Genome Project analisou, ao longo de dez anos, características de executivos de sucesso – e os resultados trazem uma nova perspectiva sobre o que entendemos como liderança
Carisma, trajetória marcada essencialmente por sucessos, talento para dar a “palavra final” – essas são as qualidades que marcam um líder, correto? Errado, segundo a pesquisa CEO Genome Project, financiada pela consultoria GHsmart, que entrevistou milhares de CEOs durante dez anos. Os resultados mostram que as características dos CEOs de alta performance contrariam o senso comum. Entre os traços que se destacam estão: habilidade para entender pessoas e mediar interesses e, principalmente, encarar erros como parte do processo de aprendizado e como etapa para o sucesso.
Primeiramente, uma visão construtiva do erro: esse é um fator comum às trajetórias dos CEOs bem-sucedidos. Segundo a fundadora do CEO Genome Project, Elena Lytkina Botelho, quase todos os entrevistados relembraram ter cometido erros de grandes proporções: 45% deles chegaram a ser demitidos ou enfrentaram graves consequências, como prejuízo na carreira ou risco de falência da empresa. No entanto, 78% acabaram chegando posteriormente a uma posição considerada excelente pela pesquisadora – o que ela define como CEO de alta performance, aquele que lidera um negócio considerado excelente tanto para clientes, acionistas como para quem trabalha na companhia. “Essas são pessoas capazes de dizer ‘isso não deu certo, foi um desastre, mas por outro lado eu posso lhe dizer o porquê”, explicou Botelho em entrevista concedida à BBC. “Candidatos mais fracos tendem a culpar os outros ou deixar as coisas sem explicações, e isso faz com o que o aprendizado seja mais difícil”.
Outro mito questionado pelo estudo foi a suposta relação entre autoritarismo e capacidade de liderança. A autora aponta uma clara distinção entre mostrar um comportamento decidido baseado em uma linha de pensamento racional e ser arbitrário apenas para confirmar autoridade: na trajetória dos CEOs bem-sucedidos muitas vezes decisões foram tomadas com base em sugestões de colaboradores, conselhos e acionistas. “Pense em um CEO como o condutor de uma orquestra, com habilidade para engajar as partes interessadas rumo ao melhor para a companhia sem ser muito extremo em uma direção ou em outra”, Botelho faz essa analogia à BBC.
Por fim, o estudo contesta o senso comum de carisma. A autora analisou traços de introversão e extroversão nos CEOs – sendo geralmente que o carisma é uma característica associada a uma habilidade de lidar mais abertamente com pessoas – e verificou que não raro introvertidos superavam mais as expectativas em termos de resultados para a companhia. Ela cita exemplos de CEOs célebres, como Bill Gates. Também verificou que nem sempre uma educação de ponta – com as melhores universidades no currículo e cursos de especialização técnica – está relacionada a uma liderança de alta performance, pelo contrário: muitos CEOs revolucionários vieram de outras áreas que não o foco de negócio de empresa.
A página do CEO Genome, em inglês, detalha os comportamentos de liderança apontados pelo estudo e também oferece um teste de 5 minutos para que o usuário possa responder sobre suas próprias características de liderança e refletir sobre aspectos que pode aprimorar, com base nas descobertas da pesquisa: ceogenome.com.