Derivada do latim, a palavra inveja vem da junção de in e vedere, que significa “não ver”. Logo, quando reconhecido e olhado de frente, esse sentimento pode ser racionalizado e convertido em impulso para auto-realização
Em seu ensaio Inveja e gratidão (1947), a psicanalista Melanie Klein faz uso de uma fábula para descrever a inveja. Conta a história de um homem que recebe um presente de uma fada: desejar qualquer coisa que queira, mas com a condição de que seu vizinho irá receber o dobro. O homem pensa e por fim decide o que quer: perder um olho.
Naquela época, Klein não imaginaria que suas reflexões sobre a inveja seriam corroboradas pela moderna neurociência: estudos no campo da neuroeconomia, por exemplo, mostram que a satisfação em receber uma recompensa é bem menor quando os voluntários descobrem que outros ganharam mais.
Outros estudos, que usam tecnologia de imageamento cerebral, mostram que perceber o outro numa situação melhor ativa áreas do cérebro relacionadas à dor física. Existe inclusive uma palavra em alemão, Schadenfreude, que descreve o alívio quase físico, prazeroso, que sentimos ao descobrir que uma perda poderia ter sido muito pior ou que uma pessoa está em situação relativamente mais miserável que a nossa.
A inveja é um sentimento caracterizado pela tristeza ou raiva diante da alegria ou conquistas alheias. É uma das faces mais comuns do que o psicólogo Carl Jung chama de sombra, isto é, partes de nossa psique que temos resistência em reconhecer, mas que, quando analisadas e incorporadas saudavelmente à nossa personalidade, levam ao amadurecimento.
Como pontua o pensador Leandro Karnal, a inveja tem a vantagem de oferecer pistas para descobrirmos o que de fato queremos para nós. Nesse momento, é curioso falar sobre a origem latina da palavra inveja, que vem da junção de in e vedere, que significa “não ver”. Logo, quando olhada de frente, a inveja pode ser racionalizada e convertida em impulso para auto-realização.
Freud falou da inveja como produto de um ódio inconsciente, com raízes na infância, com relações muito próximas com a raiva e com a depressão. E é muito interessante pensarmos sobre como esse sentimento nos impele a atitudes infantis: criticar uma pessoa (mesmo as que mais amamos) que está feliz com uma conquista com a intenção de reduzir sua alegria (dizendo frases como “Seu trabalho está bom, mas nesse mundo sempre tem alguém fazendo algo melhor!”), recusar sem motivo aparente ajuda de uma pessoa que possui mais conhecimento (pensando, por exemplo, “Quer aparecer às minhas custas!”). Há muitos exemplos cotidianos e invariavelmente negamos haver relação com emoções de raiva e sentimentos de inveja.
Assim, a autoanálise, principalmente se orientada por um profissional qualificado, com formação em psicanálise, psicologia ou experiência real e reconhecida em gestão de pessoas, pode ser um instrumento para identificar o local que a inveja ocupa em sua vida e se ela está sendo manifestada como força paralisadora ou convertida em motivação para as próprias conquistas e em ferramenta de autoconhecimento. No momento em que você se reconhece como indivíduo singular, com objetivos e potenciais únicos, a inveja passa a ter uma dimensão produtiva, no sentido não apenas de reconhecer as próprias capacidades e desejos reais, mas de estimulá-los nas pessoas próximas, passando a fazer parte, positivamente, de suas conquistas.
Gostaria de ler mais textos semelhantes