O que a saúde do corpo pode nos dizer sobre a saúde nas corporações?
Muito.
No best-seller do médico francês David Servan-Shreiber “Anticâncer – Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais” podemos encontrar alguns insights úteis para aplicar não só em nossas vidas, mas, também na forma de pensar a cultura organizacional.
Encaremos a empresa como um corpo e os problemas de gestão que prejudicam o funcionamento saudável dos processos, como uma doença.
Quando o corpo detecta uma doença, todas as defesas são acionadas, estabelecendo um verdadeiro estado de emergência para combater o agente invasor.
Da mesma forma quando há um problema de gestão evidente em uma empresa, as defesas são acionadas e o senso de emergência na resolução desse problema aumenta o nível de estresse entre líderes e colaboradores.
No livro do médico francês há uma explicação de como o estresse atrapalha a sistema de defesa do organismo: os glóbulos brancos estão preocupados em combater a inflamação causada pela liberação de toxinas causadas pelo estresse e não ataca os vírus invasores, ou as células cancerígenas.
Ou seja, o estresse literalmente desarma o organismo. Assim como desarma as organizações.
Quando a doença age e causa dor, não há outra solução, devemos aplicar remédios para aliviar o corpo.
Porém, a dor é somente a manifestação da doença. Tratar a dor não é curar o corpo.
Muitas vezes são necessárias medidas diretas para que a doença não se espalhe pelo corpo organizacional, mas isso é uma medida pontual que não impede que outros focos apareçam, impedindo o bom funcionamento da organização.
David introduz uma idéia não muito alentadora em seu livro: “todos temos um câncer dormindo em nós.”
Essa observação não é para assustar o leitor, é somente para alertar para o fato de que: “Como todo organismo vivo, nosso corpo fabrica células defeituosas permanentemente”.
Porém, o médico francês acrescenta: “nosso corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los”.
David não fala somente como um especialista, ele mesmo foi diagnosticado com um câncer no cérebro e conseguiu reverter o quadro. Quando operado, ele perguntou ao médico o que ele poderia fazer para que o câncer não voltasse. O médico simplesmente disse para que ele aguardasse e torcesse para que não voltasse.
David não se contentou com essa resposta e foi à busca de um estilo de vida e alimentação que ajudasse ao corpo impedir a formação de células cancerígenas.
“Melhor prevenir do que remediar” a frase popular que tanto ouvimos, leva um princípio empírico básico de sabedoria: a cura está no cuidado constante, antes da manifestação de qualquer crise.
Mas o que é prevenir?
A idéia central do livro de David é de que a prevenção e a cura se dão pela força de nosso próprio organismo, pelos mecanismos de defesa do corpo que combatem a doença e suas manifestações, muito antes delas agirem.
E o que seria prevenir doenças organizacionais? É tratar das relações, o fator humano, o verdadeiro valor no qual repousa o sucesso ou o fracasso em uma empresa.
Em seu livro David indica que no ocidente as pessoas morrem muito mais de câncer do que no oriente. Qual seria a razão para isso?
Uma das diferenças essenciais é a abordagem da medicina ocidental e a oriental:
A medicina ocidental de forma geral trata a doença e a crise de forma pontual.
A oriental trata o todo, “cuidam do terreno em profundidade”, a longo prazo.
David não coloca em competição as duas formas de encarar a doença, ao invés, procura aliar as duas: o racional e o intuitivo, duas formas complementares de abordar o mesmo problema.
No livro há a explicação da concepção oriental de racionalidade: O ideograma para PENSAMENTO no chinês antigo é formado pelo ideograma de CORAÇÃO (o centro das emoções) e MENTE (o centro da razão).
A novidade no livro de David é a divulgação de que a medicina moderna não está tão longe da concepção de inter-relação entre o racional e o emocional no tratamento das doenças.
No coração há mais de 40 mil neurônios, o que faz ser como um pequeno cérebro semi-autônomo em suas palavras.
O corpo, afinal, é um todo. Não se pode tratar uma parte isolada sem considerar o todo.
Assim também se deve tratar a empresa, não como metáfora, mas como realidade. Não se pode tratar um aspecto pontual, há que tratar o TODO e a LARGO PRAZO, como se trata um organismo vivo e pulsante.
A eficácia está nos grupos de mútuo apoio no seio das organizações: O afeto, o sentimento de pertencimento, a integração entre o emocional e o racional pode curar as relações em uma organização em crise e resgatar valores que se acreditavam esquecidos.
Ou, nas palavras de David Servan-Shreiber: “…devemos ultrapassar a imagem que temos de nós mesmos e que fazemos dos outros. Devemos saber no mais íntimo de nós, que somos intrinsecamente livres para nos reconstruir, para nos transformar e atribuir ao outro o mesmo poder.”
Anticâncer – Previnir e vencer usando nossas defesas naturais
Autor: Servan-Schreiber, David
Editora Fontanar, 2008
